Estimativa foi avançada pelo epidemiologista Manuel Carmo Gomes na reunião de especialistas no Infarmed. Será preciso aguardar oito semanas para que número de casos desça para valores registados antes do Natal.
O epidemiologista da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa Manuel Carmo Gomes prevê que nas próximas duas semanas o país chegue a 14 mil casos diários de infecção. A estatística foi apresentada nesta terça-feira, na reunião dos especialistas no Infarmed, onde foi feito o balanço da pandemia em Portugal.
“Temos pela frente as semanas mais difíceis da pandemia”, alertou o especialista, avisando que, mesmo com o confinamento geral e o encerramento das escolas “dificilmente evitaremos os 14 mil casos daqui a duas semanas”, data em que o número de mortos por covid-19 rondará os 150 por dia.
O epidemiologista esclarece ainda que demorará pelo menos oito semanas até que o número de infecções regresse ao do período que antecedeu ao Natal. Até que se chegue ao pico – equivalente às 14 mil infecções diárias – teremos de aguardar duas semanas, sendo depois necessárias outras três para que o número de casos desça até aos sete mil diários. Depois, para que o número de infecções diárias se estabilize entre as sete mil e as 3500, será necessário aguardar outras três semanas, de acordo com a previsão do especialista.
Manuel Carmo Gomes esclarece que o primeiro indicador de que a situação epidemiológica se estava a deteriorar foi recolhido “a 2 e 3 de Janeiro”, considerando que o aumento de casos depois do Natal e Ano Novo também se explica pelo aumento de testes. “À medida que os casos crescem, também se fazem mais testes e consequentemente encontram-se mais casos”, diz.
De acordo com os dados recolhidos na última semana, entre 2 e 6 de Janeiro o valor médio do R(t), que aponta o número médio de casos secundários resultantes de um caso infectado medido ao longo do tempo, em Portugal fixou-se nos 1,22. Ou seja, cada doente com covid-19 está a infectar em média mais do que uma pessoa (e qualquer valor acima do 1 não é recomendável). Por isso, este é um dos números que é preciso travar, contrariando o ritmo de contágio.
“Medidas [de fim-de-semana] funcionam”
O especialista Henrique Barros, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, mostrou que não há relação entre a mobilidade e o aumento do número de casos, deixando claro que este indicador não implica que as medidas de confinamento não têm impacto.
“Têm, sim, efeito. Antes da ocorrência das medidas, o aumento diário dos concelhos atingiu a certa altura os 480 [casos por cada 100 mil habitantes], e esse aumento é de 3,5%. Só com as medidas de restrição do fim-de-semana há uma diminuição diária de 0,7%. Estas medidas funcionam”, afirmou.
Quanto à manutenção da actividade lectiva presencial, o especialista relembrou que a epidemia está mais forte em pessoas com idades compreendidas entre os 20 e os 49 anos, vincando que não existe registo de surtos de grande dimensão desde o início do presente ano lectivo.
Vacina da Moderna chega esta semana
Francisco Ramos, coordenador da task force para o Plano de Vacinação em Portugal, anunciou que o país deve receber esta semana as primeiras doses da vacina da Moderna. Até esta segunda-feira (11 de Janeiro), Portugal já tinha recebido mais de 161 mil doses de vacinas da Pfizer. Ainda não foram registadas reacções adversas às doses administradas em Portugal.
“A prioridade é para lares de idosos, redes de cuidados continuados, profissionais de saúde quer do sector público, quer do sector privado”, sublinhou Francisco Ramos. A toma das segundas doses da vacina deve iniciar-se a 18 de Janeiro. Até ao final do mês, Francisco Ramos espera que todos os utentes em lares de idosos estejam vacinados.
A vacina da Moderna recebeu “luz verde” da Agência Europeia do Medicamento na quarta-feira, estando prevista a entrega de 160 milhões de doses desta vacina no primeiro trimestre de 2021. Os ensaios clínicos da empresa de biotecnologia norte-americana mostraram uma eficácia de 94,5% contra o vírus.
Até segunda-feira (11 de Janeiro), Portugal já tinha recebido cerca de 161 mil doses de vacinas da Pfizer. Há 72.740 doses reservadas para a segunda toma da vacina contra a covid-19 (o objectivo é garantir que há doses suficientes para completar o processo de vacinação das pessoas que já começaram a ser inoculadas).
Na primeira toma, foram inoculadas cerca de 74 mil pessoas. A maioria das doses foi para profissionais de saúde, com 7521 doses a serem administradas a utentes em Estruturas Residenciais para Pessoas Idosas (ERPO) e na Rede Nacional de Cuidados Continuados (RNCCI).