Seis manifestantes que pretendiam manifestar-se em frente à embaixada portuguesa foram detidos, segunda-feira, pela polícia angolana e deixados, cinco horas depois, numa zona a caminho do Bengo, sem qualquer explicação.
Os manifestantes foram detidos depois das 11:00 de segunda-feira (01.02), quando pretendiam manifestar-se em frente à Embaixada de Portugal em Angola. À tarde “foram abandonados na rua por volta das 17:00 a caminho do Bengo”, disse à Lusa o presidente da Associação para o Desenvolvimento da Cultura dos Direitos Humanos (ACDH) de Cabinda, Alexandre Kuanga.
Os seis manifestantes “tiveram que desenrascar formas para chegar até às suas casas”, conta o ativista dos direitos humanos. “Tem sido assim o comportamento da Polícia Nacional em Luanda e também em outras províncias. Pegam nos manifestantes, alguns deles são abandonados na mata e outros deixam em zonas longínquas para criar dificuldades e inviabilizar o direito à manifestação”, acusa.
Alexandre Kuanga diz-se indignado com a atuação da polícia, lamentando a violação da Constituição, que garante o direito dos cidadãos a manifestarem-se. “Não se sabe se a Constituição angolana está para defender, garantir as liberdades fundamentais dos cidadãos ou para garantir a permanência do Governo do MPLA no poder”, referiu na entrevista à Lusa.
“Porque é inaceitável que todas as vezes que as pessoas, jovens, pretendem manifestar-se sobre situações que afetam a vida económica, social e até política dos cidadãos, a polícia procura razões para inviabilizar e muito mais os cidadãos de Cabinda”, frisou.
“Abandonaram-nos na rua”
O presidente da ACDH disse que durante mais de cinco horas os seus companheiros estiveram fechados na viatura, com dois polícias, que não informaram as razões daquela situação nem o local para onde estavam a ser dirigidos, até que decidiram abandoná-los numa zona que não conseguiram identificar. “Não disseram nada, pura e simplesmente abandonaram-nos na rua depois de cerca de cinco horas a circularem”, criticou.
A manifestação, não autorização pelo governo da província de Luanda, foi marcada para o dia 1 de fevereiro, data em que foi assinado o Tratado de Simulambuco, que selou a criação de um protetorado português na região de Cabinda.
A embaixada portuguesa foi o local escolhido para se manifestarem “para que Portugal possa intervir, para que haja paz em Cabindae parem com o conflito que existe em Cabinda, como consequência desse acordo de Alvor em violação do Tratado de Simulambuco”, explicou Alexandre Kuanga.
A Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) luta desde 1975 pela independência daquele território, de onde provém mais de metade do petróleo angolano.