Milhares de cubanos manifestaram-se este domingo contra o governo, num movimento inédito, nas ruas de duas pequenas cidades, uma a sudoeste de Havana e outra perto de Santiago de Cuba.
Este domingo, Cuba viveu um dia histórico. As manifestações inéditas surgiram em todo o país. Os cubanos manifestaram nas ruas, gritando “Liberdade”, “Abaixo a ditadura” e “Nós não temos medo”. Na ilha dirigida pelo partido único comunista há décadas, as manifestações são proibidas.
Os manifestantes, a maioria jovens, desfilaram nas ruas de San Antonio de los Baños, uma cidade com cerca de 50.000 habitantes, situada a 35 quilómetros da capital cubana.
Desde o início da pandemia da Covid-19, os cubanos enfrentam a maior escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos, agudizando a crise económico-social que se vive no país.
Estas são as maiores manifestações contra o governo de que há registo na ilha desde o chamado “maleconazo”, quando em Agosto de 1994, em pleno “período especial”, centenas de pessoas saíram às ruas de Havana e não se retiraram até à chegada do então líder cubano Fidel Castro.
“Aqui temos fome”
“Em quase todas as províncias e cidades, as pessoas saíram para a rua para mostrar cansaço dos problemas que vivemos aqui, e desta crise ! Os cubanos já não aguentam !”, explica uma manifestante.
“Queremos apenas protestar de forma pacífica e manifestar pela nossa liberdade, mas a polícia ataca todas as pessoas que protestam!”, queixa-se um manifestante. “É a primeira vez que manifestamos, mas não será a última”, exclama.
Internet cortada todo o dia
No total, segundo o site de datajornalismo Inventario, perto de quarenta manifestações, espalhadas pelo país, foram recenseadas este domingo.
A maioria das manifestações foi difundida em directo nas redes sociais, neste país onde a internet móvel chegou em finais de 2019. Ao meio-dia, o acesso à 3G foi cortada na maior parte do país e foi restabelecido no final do dia.
Testemunhas no local descreveram à AFP a intervenção da violência policial nas duas manifestações, que foram transmitidas em directo em várias contas na rede social Facebook.
O Presidente Miguel Díaz-Canel apelou na televisão os revolucionários a deixarem as ruas. Reconheceu algumas reivindicações, descreveu uma grande confusão e acusou o inimigo de sempre, Washington, de estar na organização dos protestos.