A pediatria do Hospital Geral de Benguela regista um número de pacientes que limita a sua capacidade. Concebida para atender 100 a 150 crianças, hoje a pediatria tem um registo de 400 crianças com má nutrição e mais de 100 com malária, para os quais a unidade sanitária se vê incapaz de dar resposta. Apreensiva, a responsável do serviço pediátrico, Aida Epalanga, dá o grito de socorro, salientando, porém, que o quadro já é insustentável.
Na pediatria do Hospital de Benguela, onde esteve a reportagem deste jornal, constata-se um cenário periclitante, na medida em que enfermeiros e médicos dão o máximo de si para prestar assistência a crianças, muitas das quais com um quadro de malária e má nutrição. A falta de cama obriga a que mães e enfermeiros convirjam, e coloquem as crianças nos corredores.
De sorte que se torna difícil circular de um lado para o outro, por causa das camas improvisadas pelas mães nos corredores.
Nesta altura, segundo soube este jornal, o hospital está sem capacidade para receber mais crianças.
João Domingos, que há quatro dias está internado com a filha de um ano e seis meses com problema de nutrição, lamenta o facto de o hospital estar desprovido de medicamentos, obrigando a que os pais recorram a farmácias particulares para a compra dos mesmos.
Dada à falta de cama, explica, os enfermeiros vêm-se obrigados a colocar, num único leito, crianças com vários tipos de patologias.
“Está muito cheio, não há cama suficiente. Numa cama, estão três a quatro crianças e é só uma mistura. Os corredores estão ocupados. Não há espaço para dormir, alguns doentes dormem fora”, deplora.
Muitas mães têm no Centro de Nutrição, adjacente à Faculdade de Medicina da Universidade Katyvala Bwila, não muito distante do hospital, a solução para a criança recuperar os nutrientes e vitaminas de que precisa para o seu organismo. No referido centro, centenas de mães, perfiladas, recebem leite para alimentar os petizes.
Entretanto, os responsáveis manifestam, igualmente, preocupação em relação à falta de apoios. O Centro de Nutrição sobrevive graças a doações de ONG’s como a JAM, mas, segundo referiram alguns responsáveis, sob anonimato, nos últimos tempos aguardam por mais apoios de outras organizações.
No entanto, os responsáveis dizem que os apoios não têm sido regulares. Por isso, neste momento, a unidade sanitária está a enfrentar dificuldades.
Teresa, mãe de uma criança de 2 anos, manifesta-se preocupada, pois há uma semana recebe regularmente uma caneca de leite e não vislumbra desenvolvimento no aspecto físico do filho, levando-a a concluir que ainda inspira alguns cuidados.
“Mas as enfermeiras têm sido muito boas para connosco”, reconhece a paciente, que apela para a necessidade de se prestar mais atenção aos hospitais, tendo lamentado o quadro a que chegou, actualmente, a pediatria de Benguela. “É inconcebível”.
A filha de José Tchongolola, de 3 anos de idade, sentiu-se mal ao longo da noite de Segunda-feira. Preocupado, o pai, como a progenitora tinha outras tarefas, decidiu ele próprio, de manhã cedo, levá-la à pediatria na esperança de que fosse assistida por um profissional, pois os sintomas indicavam malária. Posto no Hospital Geral de Benguela, precisamente no banco externo, é confrontado com a informação de que, naquele momento, não podia ser atendido devido ao fluxo de paciente, pelo que lhe foi sugerido que aguardasse.
À reportagem de OPAÍS contou que “cheguei ao banco externo e disseram que não tem espaço, tem que aguardar, porque está muito cheio”.
O cenário vivido nos últimos dias na Pediatria do Hospital de Benguela deixa apreensiva a direcção da referida área de assistência sanitária a crianças. Em entrevista à rádio Benguela, Aida Epalanga, responsável da pediatria, descreveu, com tristeza, o quadro vigente naquela unidade sanitária:
“Neste exacto momento, nós temos duas crianças numa cama e doentes em todos os nossos corredores”, refere, tendo salientado que aquela unidade está acima do limite da sua capacidade.
Segundo a responsável, têm ido parar à pediatria várias crianças com má nutrição devido àquilo a que chama de carência das famílias, associada à questão da fome.
Em termos numéricos, segundo ilustrou, estão neste momento internadas 400 crianças com má nutrição e mais de 100 a padecer de malária.