Sondagem do Fórum para os Direitos da Criança conclui que maioria é contra reabertura imediata de escolas. Organização Nacional dos Professores assegura que estabelecimentos de ensino estão a ser reestruturados.
Uma sondagem do Fórum da Sociedade Civil para os Direitos da Criança (ROSC) a que a DW África teve acesso constata que crianças e adultos são contra a reabertura das escolas em Moçambique. O Governo ainda não definiu quando dará o aval para os estabelecimentos de ensino voltarem a funcionar normalmente.
Segundo o relatório do ROSC, 72% dos maiores de 18 anos opõem-se à reabertura, assim como 71% de crianças e jovens entre os 7 e os 18 anos. Quase 12,3 mil pessoas participaram no inquérito.
“É incrível que alguns pais que diziam que se pode reabrir as escolas recuam quando a questão é se levariam o filho ou não”, identifica Salomé Mimbir, directora de programas do ROSC.
Segundo Mimbir, a justificação para a recusa é associada à falta de condições de higiene e segurança nas escolas e de consciência de risco da criança no espaço público. Outras condições relevantes apontadas no relatório referem-se às condições dos transportes públicos e os custos de aquisição de gel desinfectante e de máscaras.
“[Para os pais,] é necessário estudar e a escola é importante. [Eles] querem [que os filhos] voltem a estudar, mas dentro das condições que o coronavírus nos obriga”, interpreta Mimbir.
O psicológico das crianças
Na secção de comentários do inquérito, alguns pais falaram da “gestão da ansiedade” e da “disposição psicológica das crianças para voltar às aulas”.
Segundo Mimbir, a sondagem apontou que, devido ao longo tempo sem ver os colegas, a primeira coisa que as crianças tendem a fazer é abraçarem-se. “Os mais novinhos falam inclusive de trocar máscaras, daquela cultura de partilhar o lanche, de partilhar a água”, diz a directora, ressaltando a dificuldade de obedecer ao distanciamento social para prevenir a Covid-19.
“Era necessário que se investisse nalgum processo de consciencialização das pessoas sobre as medidas a tomar na escola no espaço público para poder prevenir o coronavírus”, lê-se nos comentários no inquérito.
A directora de programas do ROSC considera ainda que, mesmo em circunstâncias normais, a questão de higienização nas escolas “é uma utopia”. “Temos casos de desistência escolar ou de absentismo quando as raparigas estão menstruadas. Porque, normalmente, as escolas não oferecem condições dignas para gerirem a sua higiene pessoal na escola”, exemplifica.
Mimbir espera que os 3,5 mil milhões de meticais (44 milhões de euros) que o Governo alocou para preparar as escolas sejam inteiramente usados para este fim.