Reacções ao sucedido, na região do Cafunfo, no fim de semana, continuam. UNITA diz tratar-se de um “genocídio” e igreja católica fala “num massacre de cidadãos”. Fontes no terreno falam em 25 mortes.
Nos últimos dias, têm sido várias as reações ao assassinato, que teve lugar este fim de semana na região diamantifera do Cafunfo, província angolana do Cuango. Os números das vítimas mortais estão ainda por apurar, mas os números contabilizados pelo Protectorado da Lunda Tchokwe e as autoridades diferem bastante.
“Neste momento, pela nossa própria contabilidade morreram 25 pessoas. E as autoridades sabem que isso é grave para eles. Temos 28 pessoas que foram transferidos esta manhã do Cafunfo para o hospital do Dundo”, assevera, em entrevista à DW África, o presidente do Protectorado da Lunda Tchokwe, José Zeca Mutchima, que acrescenta que há ainda muitos cidadãos desaparecidos, pelo que o número de mortes pode ainda aumentar.
O mesmo responsável afirma que, neste momento, o clima é de medo, de terror e caça às bruxas na região.
“As famílias não estão a sair à rua porque continua a caça ao homem, continuam as restrições. Em Cafunfo, há tiroteios minuto a minuto e as pessoas estão com medo de sair as ruas”, conta.
A versão das autoridades é diferente. Paulo de Almeida, comandante geral da polícia que se deslocou este fim-de-semana à região, fala apenas de seis mortes e num clima calmo.
De acordo com a corporação, a “rebelião armada”, deste sábado (30.01), como é classificada pela polícia, contou com cerca de 300 elementos do Protectorado da Lunda Tchokwe que tentou invadir a esquadra policial com o objetivo de retirar a bandeira da República de Angola e substitui-la pela do Protectorado. Segundo o comandante, está aberta uma investigação e os manifestantes, que apelida de “vândalos”, serão responsabilizados.
“Do registo que temos, ocorreram ontem quatro mortos por parte destes vândalos e hoje houve dois feridos que acabaram por morrer. Do lado das forças houve dois feridos: um oficial superior das Forças Armadas e um oficial da polícia nacional, que está em estado crítico”, adianta Paulo de Almeida.
“Informação manipulada”, diz OMUNGA
João Malavindele, coordenador da ONG OMUNGA, com sede em Benguela, não acredita nos dados da polícia e fala em manipulação da informação. “O Executivo angolano precisa de saber que o nível de consciencialização não permite, sobretudo nos dias de hoje informações manipuladas. Que rebelião é essa onde só há vítimas de um lado e o outro sai ileso?”, questiona.
Malavindele lembra o confronto entre fiéis da Igreja a Luz do Mundo de José Julino Kalupeteka, em 2015, e acusa a polícia de estar a semear sequelas nas famílias angolanas. O resultado do inquérito deste tumulto do Huambo ainda não é conhecido, numa altura em que surge mais um caso de assassinato para investigar.
No caso ocorrido em Cafunfo, o líder da OMUNGA defende a criação de uma comissão independente e a consequente responsabilização criminal e civil dos implicados.
Activistas feridos e detidos em protesto em Angola
“Mais uma vez, a OMUNGA condena a ação da polícia e exige que se faça uma investigação transparente, se possível com o envolvimento das várias forças da sociedade civil, no sentido de se responsabilizar criminalmente os agentes envolvidos e responsabilizar civilmente o Estado angolano”, afirma.
Numa nota de imprensa tornada pública essa segunda-feira (01.02), os bispos católicos do leste de Angola condenaram o “massacre de cidadãos”, na região diamantífera do Cuango. A igreja católica diz ser “inaceitável que se matem pessoas em tempo de paz”.
Oposição exige exonerações
As reações estenderam-se também pela oposição angolana. Adão Ramos, do Bloco Democrático, um dos partidos integrantes da CASA-CE, acusa o partido no poder, o MPLA, de tentar calar vozes contestatárias em Angola.
“Mais uma vez, o atual regime mostra a sua verdadeira essência: recorrer às armas para calar as vozes discordantes. Não é possível calar eternamente as reivindicações discordantes quando elas assentam em pedidos de justiça”.
Por sua vez, a UNITA, o maior partido da oposição angolana, criou uma delegação constituída por deputados que se deslocou a zona do confronto. O deputado Joaquim Nafoa, um dos integrantes, diz ser prematuro falar sobre o número exato de vítimas, mas de uma coisa tem a certeza: “houve genocídio no Cuango”.
“O que lhe posso afirmar é que houve um massacre, houve um genocídio como sempre. Em 1998, no calor das armas, as forças de governo, na localidade do Bula, na Vila de Cafunfo, as forças de governo chegaram de assassinar, no mês de setembro, 167 cidadãos”.
Por isso, este deputado da UNITA, exige a exoneração das altas patentes do Ministério do Interior e da Polícia Nacional. Também quer que o Presidente da República João Lourenço, quebre o silêncio.
“Se há alguém que deve ser exonerado é o próprio comandante geral da polícia, o ministro do interior e o próprio Presidente da República que é o mandante número um”.