Pobreza e falta de emprego levam jovens a trabalharem em minas ilegais de diamantes na província da Lunda Norte. A DW visitou o bairro Cangola, onde os moradores têm a própria mina de diamantes, para o sustento diário.
Cangola é um bairro pobre como os demais no município do Capenda Camulemba, na província angolanda da Lunda Norte. Aqui, falta de tudo um pouco.
Não há água potável e os moradores vivem da iluminação dos geradores. A população, maioritariamente jovem, está desempregada e não tem acesso a oportunidades de formação. Foi por isso que a comunidade criou a sua própria mina de diamantes.
A zona do garimpo fica a menos de 100 metros da Estrada Nacional 230. São mais de dois hectares de terra, perfurados com buracos de cerca de 10 dez metros de profundidade.
“André” [nome fictício] para de peneirar o cascalho num dos buracos para falar com a DW.
“Estamos aqui devido ao sofrimento que há nesta terra. Não temos quem nos possa apoiar e, por isso, não estudamos. Os pais de alguns de nós já morreram. O garimpo é o único trabalho que temos”, explica.
“André”, de 19 anos, conta que é garimpeiro há três, mas o seu sonho é estudar para se tornar advogado. Está na mina, como outros jovens e crianças, para encontrar o bilhete “precioso” para uma nova vida. Ou, pelo menos, para o sustento mensal.
“Estamos desempregados”
Senguinha, nome dado a um diamante de pouco valor, é o que mais sai nas terras do bairro Cangola, explicam os garimpeiros. Neste tipo de minas, as pedras mais valiosas não passam dos 40 quilates.
“Simão” [nome fictício], de 23 anos, está no garimpo há dois.
“Já tirei uma pedra de três quilates e vendi a 3.400 dólares. O dinheiro foi repartido com os outros amigos. Usámos esse dinheiro para os negócios. Ajudámos as mulheres. Às vezes, deixamos as mulheres com dinheiro para não sofrerem”, conta o jovem.
As pedras preciosas são comercializadas na mesma comunidade e o negócio é feito em dólares. “Simão” tem apenas a oitava classe e diz que só sai do garimpo se o Governo oferecer empregos estáveis.
“Estamos desempregados. Se o Governo disser que tem emprego para os jovens, vamos deixar isso”, reitera.
“Descriminalizar e regulamentar”
Em Angola, o garimpo ilegal de diamantes é equiparado a um furto, punível com pena de 8 a 12 anos de prisão. A posse ilícita de diamantes também é considerada crime.
Durante a campanha para as eleições gerais de agosto, o líder do projeto político PRA-JA Servir Angola, Abel Chivukuvuku, defendeu a descriminalização do garimpo.
“Aqui nas Lundas, temos o diamante como riqueza. Essas empresas como a [Soiedade Mineira de] Catoca estão registadas, pagam imposto ao Estado. Mas o cidadão comum, cava um bocado, leva corrida. Cava um bocado, leva tiro. Está correto assim? Então, temos que descriminalizar o garimpo”, defendeu na altura.
Chivukuvuku diz que o leste angolano tem sido discriminado desde o período colonial. Segundo o político, se nas regiões agrícolas há agricultura familiar, também pode haver garimpo “familiar” em zonas de exploração de diamantes.
O deputado defende que deve existir uma lei que permita ao angolano explorar diamantes para sustento da família: “Descriminalizar e regulamentar. Esta deve ser a nossa lógica”.
O garimpo é ainda razão para a expropriação de terras, privação de acesso aos rios e mortes de vários cidadãos no leste de Angola. Chivukuvuku espera que, se a atividade for descriminalizada, a situação nas Lundas possa melhorar.