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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Luanda fora de horas ou o lixo como metáfora

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FONTE:O País

Há 20 anos (mais coisa menos coisa) falava-se de cidadãos que, se não se alimentavam do lixo, vagueariam pelo lixo porque padeceriam de doenças mentais. Hoje, são milhares os cidadãos que vivem no e do lixo e se alimentam do mesmo.

Se ontem seriam as doenças mentais, hoje é a pobreza que dita e explica a existência de exércitos de meninos na rua a pedirem nas esquinas da vida e um outro que passa o dia junto dos (poucos) contentores, aguardando, recolhendo, sobrevivendo. Onde há lixo, há gente, cidadãos, particularmente em Luanda.

Mas onde há lixo e Luanda há também e sobretudo ausência: de comida, de saúde, de escola, de vida. O país está submerso em lixo. Mais ou menos volátil, o lixo está entre nós. Do orgânico à corrupção, nepotismo, entre tantos outros, todos fazem parte do menu colocado à disposição nas vitrines deste país que luta por sair do estertor. Há também uns bons anos (mais de 20), escrevi um artigo/crónica a que dei o título “Angola, o lixo e o luxo”.

Hoje, sinto a necessidade de o/a revisitar porque, se no passado o lixo não somente (con)vivia paredes-meias com o luxo, se não na mesma proporção, muito próximo disso, seguramente já prenunciava e representava os nossos males sociais de hoje.

Se ontem a coabitação entre o lixo e o luxo não seria tão flagrante para a maioria dos cidadãos, hoje essa coabitação estará mais presente nas “consciências” porque o tempo passou, as pessoas mudaram e hoje entende-se se aviltante a existência de tanto lixo, e mais, sendo que há quem tem ou deve ter a responsabilidade de o tratar.

Exemplo disso é o facto de as campanhas de limpeza que ontem mobilizavam milhares, hoje ficar(em)-se pelas dezenas (ou centenas?). O lixo como resíduo e como problema, existe em todo o país. Sem querer entrar ou promover o pânico, Luanda precisa de ser salva!

O facto de a cidade de Luanda, este macro-cosmos desta imensa Angola, não ter saneamento básico, estar pejada de lixo, revela não somente a incapacidade de resolver os problemas básicos do país, como também a displicência com que os mesmos são encarados.

Assim é que o lixo está associado à pobreza no que diz respeito não somente no que à sua qualidade e quantidade dizem respeito, mas também ao modo como é depositado, recolhido e tratado. Assim é que o lixo, tal como se apresenta, representa a estrutura e a organização social, económica e de civilidade/civismo berdade de reunião e de manifestação, direitos consagrados pela Constituição.

Nas últimas semanas, muito já se disse sobre Cafunfo. Qual o pomo da discórdia? O uso da força. Melhor dizendo, o uso excessivo da força. As mortes. Os mortos. Entre o dito e o que ficou por dizer, destacaria o seguinte: que a vida humana não tem preço. Que o estado deve, tem que primar por que as forças de segurança e defesa não atirem a e para matar.

Que a polícia, as forças armadas e todos os órgãos afectos a esses organismos que têm a seguran- ça das pessoas, dos bens e do país como sua responsabilidade, tem que ter os instrumentos (que não somente metralhadoras e mísseis) ao seu dispor para garantir a salvaguarda de todos nós e do país.

Têm, devem dispor, por exemplo, de gás lacrimogéneo, balas de borracha e, desse modo, exercerem o seu métier respeitando, sempre, os direitos e as liberdades dos cidadãos. A polícia não pode partir para a guerra e com “trungunguice” procurar justificar o injustificável.

O cidadão não deve ter medo da polícia, mas sim respeitá-la. Tal como a polícia também deve respeitar o cidadão. Não queremos e não precisamos que quem governa este país seja e se mostre displicente com relação aos graves problemas que nos apoquentam e com que nos confrontamos.

Precisamos que quem governa/e as províncias, o país, seja inconformado. Precisamos de os saber e sentir verdadeiramente preocupados. Precisamos de saber e sentir que, se necessário, os eleitos e/ ou nomeados (depende do ponto de vista) não dormem para resolver os problemas das populações.

Precisamos de pessoas, não necessariamente de políticos, que se sacrifiquem pelo bem comum. Precisamos que quem tenha a tarefa de manter a paz, a segurança e a tranquilidade dos cidadãos se traduza façam o seu trabalho com responsabilidade. Aliás, como todos nós.

Precisamos que, e volto à RESPONSABILIDADE E RESPONSABILIZAÇÃO, quem trate por exemplo do seu BI o receba na data aprazada (continuam as províncias, na sua maioria, reféns do envio dos BIs de Luanda) e não colocar os pobres cidadãos, literalmente, no vaivém, alguns a 300, 600 kms das capitais que para lá vão para tratar, depois para receber, e têm que regressar porque entretanto o documento não está pronto, ainda não chegou…!

E a a cadeia de responsabilidades onde está, onde fica? E quem paga o transporte do cidadão? E os cidadãos perguntam: ATÉ QUANDO? Metáforas de uma província, de um país que tem tudo para dar certo e continua submerso no lixo. Mas nem tudo é mau neste país à beira-mar plantado.

Termino com uma nota positiva, saudando um funcionário da TAAG, de seu nome Orandi Rodrigues, pela diferença pela positiva, pelo profissionalismo e nobreza na busca de solução de uma situação que poderia ter terminado muito mal e os passageiros até deveriam ter sido ressarcidos pelo sucedido.

Sem entrar em pormenores, enquanto outros funcionários da companhia directamente relacionados com o caso “lavaram as suas mãos”, ele assumiu a falha e acabou não somente por sair bem na fotografia como, igualmente, por bem representar a companhia em que trabalha. *Professora e Investigadora do país e das comunidades.

Assim é que o lixo não será só resíduo mas também, e sobretudo, metáfora da irresponsabilidade e irresponsabilização que constituem parte das misérias em que nos vemos imersos.

Entre a aflitiva e preocupante pobreza material e a abundante miséria de espírito, venha o diabo e escolha. Se a isso acrescentarmos a (pré)campanha eleitoral que mesmo para aqueles que, como eu, considera interessantíssimo e às vezes exulta com as trocas de palavras, argumentos e justificações entre as partes que competem pelo lugar no pódium, há matérias sobre as quais não há discussão, não há argumentos, não pode haver contemplações, como é o caso do tratamento do lixo.

E, claro, o de Cafunfo. Há uma certa ambiguidade na forma como a polícia é vista. Bemvinda, aplaudida quando a segurança dos cidadãos está em causa e os mesmos sentem que a sua presença os fazem sentirem-se seguros. Vaiada, quando reprime a liberdade de reunião e de manifestação, direitos consagrados pela Constituição. Nas últimas semanas, muito já se disse sobre Cafunfo.

Qual o pomo da discórdia? O uso da força. Melhor dizendo, o uso excessivo da força. As mortes. Os mortos. Entre o dito e o que ficou por dizer, destacaria o seguinte: que a vida humana não tem preço. Que o estado deve, tem que primar por que as forças de segurança e defesa não atirem a e para matar.

Que a polícia, as forças armadas e todos os órgãos afectos a esses organismos que têm a segurança das pessoas, dos bens e do país como sua responsabilidade, tem que ter os instrumentos (que não somente metralhadoras e mísseis) ao seu dispor para garantir a salvaguarda de todos nós e do país.

Têm, devem dispor, por exemplo, de gás lacrimogéneo, balas de borracha e, desse modo, exercerem o seu métier respeitando, sempre, os direitos e as liberdades dos cidadãos. A polícia não pode partir para a guerra e com “trungunguice” procurar justificar o injustificável.

O cidadão não deve ter medo da polícia, mas sim respeitá-la. Tal como a polícia também deve respeitar o cidadão. Não queremos e não precisamos que quem governa este país seja e se mostre displicente com relação aos graves problemas que nos apoquentam e com que nos confrontamos.

Precisamos que quem governa/e as províncias, o país, seja inconformado. Precisamos de os saber e sentir verdadeiramente preocupados. Precisamos de saber e sentir que, se necessário, os eleitos e/ ou nomeados (depende do ponto de vista) não dormem para resolver os problemas das populações.

Precisamos de pessoas, não necessariamente de políticos, que se sacrifiquem pelo bem comum. Precisamos que quem tenha a tarefa de manter a paz, a segurança e a tranquilidade dos cidadãos se traduza façam o seu trabalho com responsabilidade. Aliás, como todos nós.

Precisamos que, e volto à RESPONSABILIDADE E RESPONSABILIZAÇÃO, quem trate por exemplo do seu BI o receba na data aprazada (continuam as províncias, na sua maioria, reféns do envio dos BIs de Luanda) e não colocar os pobres cidadãos, literalmente, no vaivém, alguns a 300, 600 kms das capitais que para lá vão para tratar, depois para receber, e têm que regressar porque entretanto o documento não está pronto, ainda não chegou…!

E a a cadeia de responsabilidades onde está, onde fica? E quem paga o transporte do cidadão? E os cidadãos perguntam: ATÉ QUANDO? Metáforas de uma província, de um país que tem tudo para dar certo e continua submerso no lixo. Mas nem tudo é mau neste país à beira-mar plantado.

Termino com uma nota positiva, saudando um funcionário da TAAG, de seu nome Orandi Rodrigues, pela diferença pela positiva, pelo profissionalismo e nobreza na busca de solução de uma situação que poderia ter terminado muito mal e os passageiros até deveriam ter sido ressarcidos pelo sucedido.

Sem entrar em pormenores, enquanto outros funcionários da companhia directamente relacionados com o caso “lavaram as suas mãos”, ele assumiu a falha e acabou não somente por sair bem na fotografia como, igualmente, por bem representar a companhia em que trabalha.

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