A decisão de deixar de usar o véu islâmico e denunciá-lo como uma obrigação patriarcal valeu a Maryam Lee muitas críticas e uma investigação por parte de autoridades religiosas da Malásia, mas a militante não se arrepende.
“Toda a minha vida me disseram que [usar o véu] era obrigatório e que se não o usasse era um pecado. E depois descobri que não era, então senti-me enganada”, disse Maryam Lee à agência France-Presse.
A militante malaia indicou ter percebido aos 25 anos que ao usar o véu, o que fazia desde os nove, se conformava com as expectativas da sociedade e não com um dogma do Islão, tendo decidido deixar de esconder o cabelo.
Na Malásia, país do Sudeste da Ásia onde 60% da população é muçulmana, o véu islâmico, designado “tudung”, que cobre a cabeça e o pescoço, não é obrigatório por lei. No entanto, o país tem vindo a tornar-se mais conservador e a maioria das mulheres muçulmanas usam-no actualmente.
Maryam Lee não decidiu apenas deixar de utilizar o véu. Contou a sua história num livro “Unveiling Choices” (Escolhas reveladas), tornando-se alvo de ataques violentos e ameaças de morte.
Lançado em Abril de 2019, o livro argumenta que as mulheres muçulmanas malaias devem ter o direito de decidir se desejam usar o “tudung”.
“Não digo às mulheres o que pensar, mas peço que questionem certas certezas e teorias que lhes foram ensinadas ao longo dos anos”, disse a militante de 28 anos.
“Mesmo sem processo judicial, as mulheres são consideradas criminosas se quiserem tirar (o véu)”, estão na “prisão das expectativas da sociedade”, adiantou.
O caso de Maryam Lee levou o ministro dos Assuntos Religiosos malaio a exprimir preocupação e a militante foi interrogada ao abrigo de uma lei contra o insulto ao Islão. O sistema jurídico da Malásia contempla a sujeição dos cidadãos muçulmanos à lei islâmica (“sharia”) em certas áreas.
Maryam assinala que abandonou o véu, mas não o Islão.
“Nasci muçulmana, continuo muçulmana e não o sou menos se não usar o véu”, sublinhou.
A jovem conta com o apoio de alguns cibernautas, que desejam poder expressar a sua escolha individual tal como a sua fé.
Por outro lado, algumas mulheres conhecidas na Malásia também não cobrem o cabelo, como a antiga ministra Rafidah Aziz e a ex-governadora do Banco Central da Malásia Zeti Akhtar Aziz, assim como a mulher e a filha do antigo primeiro-ministro Mahathir Mohamad.
Com a investigação ainda em curso e a possibilidade de ser acusada, Maryam Lee diz que não se arrepende de ter partilhado a sua experiência.
“A sociedade deve acordar”, afirma a militante malaia.