O estímulo ao emprego de jovens na recuperação da agricultura e do agronegócio, na era pós-Covid-19, foi defendido na primeira reunião preparatória da 5ª Conferência das Nações Unidas sobre os países menos desenvolvidos, um encontro em formato digital que encerra hoje, contando com a participação da comissária angolana da União Africana Josefa Sacko.
Ontem, no início da reunião, a comissária da União Africana do Departamento da Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável considerou que o sector agrícola também pode desempenhar um papel fundamental na resolução dos desafios do emprego jovem nos países menos desenvolvidos africanos, à luz de desenvolvimentos como a Zona de Comércio Livre Continental (ZCLCA), operacionalizada em Janeiro.
Segundo Josefa Sacko, o agronegócio está a ser projectado para tornar-se, no continente, num negócio de um bilião de dólares até 2030, por meio do desenvolvimento de cadeias de valor agrícolas e sistemas agro-alimentares.
A comissária lamentou o facto de, desde que foi criada pelas Nações Unidas a categoria de países menos desenvolvidos, em 1971, os países africanos dominaram a lista e que, seis décadas depois, o continente ainda encabeça essa lista, respondendo por 33 dos 47 PMD globalmente classificados, algo agravado pela situação da pandemia do novo coronavírus e “à má distribuição de vacinas”.
Citou estatísticas do Banco Mundial a apontarem os PMD pela taxa de emprego jovem de 9,5 por cento na população de 15 a 24 anos, o que, nessa categoria de países, em África, varia de 0,2 por cento no Níger, para 2,1 na Libéria, 32,1 no Sudão e 34,4 no Lesotho, para atingir uma média regional de 12,4 por cento.
De acordo com a diplomata, o desemprego juvenil é um grande desafio para os países africanos menos desenvolvidos, visto que os jovens têm três vezes mais probabilidade do que os adultos de ficarem desempregados, em parte, devido às grandes barreiras estruturais que os impedem de entrar no mercado de trabalho.
Agricultura é essencial
A agricultura é a actividade económica mais importante nesses países, empregando grande parte da força de trabalho actual, lembrou a comissária, sublinhando que, em 2019, a parcela do PIB da agricultura, silvicultura e pesca cifrou-se em 25 por cento nos países africanos menos desenvolvidos, acima de todos os outros grupos de países, incluindo países de baixa renda (22 por cento) e todos os países menos desenvolvidos (16,7 por cento).
Além dos jovens estarem no centro da agenda de desenvolvimento da União Africana, a Declaração de Malabo de 2014 sobre o crescimento agrícola acelerado e a transformação para a prosperidade compartilhada e meios de subsistência melhorados, recomendou a criação de oportunidades de emprego para pelo menos 30 por cento dos jovens nas cadeias de valor agrícola, bem como a entrada preferencial de mulheres e jovens em oportunidades de agronegócio lucrativas e atraentes.
“Em 2018, a Conferência Regional sobre Emprego de Jovens na Agricultura e Agronegócios, organizada em Kigali pela FAO em colaboração com a Comissão da União Africana e o Governo de Rwanda, destacou a necessidade de se redobrar esforços para mobilizar mais recursos para os jovens na agricultura e agronegócio”, recordou.
Josefa Sacko declarou que, além desses esforços, “precisamos promover a inovação e a agricultura digital para acelerar a transformação dos sistemas alimentares em toda a cadeia de valor desses países, trânsito para sistemas alimentares resistentes e inteligentes em relação ao clima, com potencial para criar mais empregos e impulsionar novas fontes de financiamento para investimentos em sistemas agro-alimentares”, assegurou.
O encontro, realizado sob a égide da Organização de Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas (UNIDO) e pela FAO, contou com a participação dos directores-gerais das duas organizações, Li Yong e QuDongyu.
A 5ª Conferência das Nações Unidas sobre os Países Menos Desenvolvidos, a nível de Chefes de Estado e de Governo, decorre em Doha, Qatar, de 23 a 27 de Janeiro de 2022.