O cenário da imprensa em Angola piorou nos últimos 20 anos e os profissionais temem pelo seu futuro.
Esta conclusão é dos responsáveis da Comissão de Carteira dos Jornalistas, dos Sindicato dos Jornalistas Angolanos (STJ) e do MISA-Angola que pedem uma mudança de consciência dos profissionais para um exercício jornalístico ético e deontológico, com o único compromisso da verdade dos factos.
Jornalistas angolanos estiveram reunidos na segunda-feira, 27, para abordar a postura dos profissionais a um ano das eleições de 2022.
No imediato, a prioridade é a criação de conselhos de redacção em todos os órgãos de comunicação do país, mas a situação do sector, no entanto, parece ser o grande obstáculo a um bom desempenho dos profissionais.
Luísa Rogério, presidente da Comissão da Carteira e Ética disse não ter memória de um cenário mediático tão tenso como o que se vive actualmente em Angola a um ano das eleições gerais.
“Eu cobri as eleições e todo processo de paz a partir de 1991, cobri as eleições de 2008, 2012 e 2017 e nunca tinha visto um cenário de média tão tenso, tão inclinado e de forma tão escancarada da média a pender para um dos protagonistas da cena política”, afirmou Rogério, quem acrescentou nunca ter assistido, “a uma imprensa tão descredibilizada e dividida como esta”.
Ainda segundo a antiga secretária-geral do SJA, “os jornalistas hoje agem na contramão, fazemos um mau serviço em obediência a ordens superiores ou o pão dos filhos, como se diz em Angola”.
Para Luísa Rogério, essa situação contorna-se com “a cláusula de consciência que está no Código de Ética e Deontologia do Jornalista, na lei de imprensa e no Estatuto do Jornalista”.
Ela contou que “em 1992 Jonas Savimbi, então presidente da UNITA, saído da guerra civil concedeu e saiu no Jornal de Angola, o único jornal do país na altura, quatro páginas, já em 2003, no congresso do maior partido na oposição houve debate na média pública, a TPA fez um debate com os candidatos, o jornal de Angola concedeu uma página”.
Mas agora a situação é pior, com o secretário-geral da TPA, a concordar com o quadro descrito, ao qual acrescentou temer pela integridade dos profissionais dos órgãos públicos.
“O cenário hoje é crítico, muita tensão e há receios por parte dos colegas dos órgãos públicos de que a qualquer momento podem ser agredidos, uma situação que nem há 20 anos se tinha visto e isto impõe aos jornalistas um reposicionamento”, alertou Teixeira Cândido, quem defendeu que só os jornalistas podem solucionar isso, “abstendo-se de tomar partido A ou B, tendo compromisso apenas com a verdade dos factos tal como ocorrem”.
Por seu lado, o presidente do MISA-Angola acrescentou que não se lembra de “ter visto um clima tão tenso, animosidade tão elevada como a que já se vive e ainda a um ano das eleições”.
“Nota-se um linchamento de pessoas, ânimos exaltados e os jornalistas perante tal cenário a dormirem à sombra da bananeira, talvez e que diabo seja surdo até acontecer fatalidades”, concluiu André Mussamo.
Além da criação dos conselhos de redacção, os jornalistas angolanos propuseram recorrer à cláusula de consciência até à exaustão para defender o jornalismo correcto e plural e criar um mecanismo para endereçar as denúncias de censura.