Em Angola, a petição “Por uma televisão para todos” será entregue ao Parlamento nos próximos dias. Visa acabar com o que os seus mentores classificam como uso abusivo da televisão pública para fins partidários.
Entre os mentores da petição “Por uma televisão para todos” estão a jornalista Amélia Aguiar e o ativista Benedito Jeremias. Em declarações à DW África, “Dito Dali”, como é conhecido o ativista, começa por explicar a iniciativa.
“Nós, enquanto sociedade civil, estamos a lançar essa petição de modo a exigirmos da Assembleia Nacional o posicionamento firme contra o abuso no uso dos órgãos de comunicação social por parte do poder”, revela.
Em 2020, o Estado angolano tomou as estações televisivas Palanca TV e TV Zimbo- esta última parceira da DW em Angola – por terem sido constituídas com fundos públicos. A par da TPA, a Televisão Pública de Angola, Jeremias Benedito diz que estes órgãos deixaram de servir o interesse público.
“Estamos diante de uma televisão não para todos. Estamos diante de uma televisão partidária que serve os interesses do MPLA, que contraria o slogan da TPA que é ‘a TPA somos todos nós’. Isso é uma mentira, só para enganar os menos atentos”, critica.
Ignorar a oposição
Em novembro de 2019, Adalberto Costa Júnior foi eleito o terceiro presidente da União Nacional pela Independência Total de Angola (UNITA), desde a criação do maior partido da oposição. Volvido esse tempo, o ativista “Dito Dali”, lamenta a postura da média pública em relação ao líder do “Galo Negro”.
“Até hoje, a TPA, os média, os órgãos de comunicação social no geral não convidaram o líder do maior partido da oposição, o senhor Adalberto Costa Júnior, para o ouvir, para o entrevistar, [para se saber] qual é a proposta que tem para o país, quais são as ideias que tem para o país, o que pretende fazer caso for eleito”, relata.
A DW tentou, sem sucesso, ouvir os órgãos públicos em causa.
Eleições 2022
Entretanto, o país prepara-se para realizar as quintas eleições da sua história democrática e as forças políticas já estão em pré-campanha eleitoral.
“Essa imprensa tem dado muito mais espaço ao poder em detrimento da oposição. É uma imprensa que, de certo modo, não tem se revelado isenta e independente”, avalia o jornalista Ilídio Manuel.
Em 2022, os angolanos vão às urnas para escolher o Presidente da República e os seus representantes no Parlamento. Ilídio Manuel comenta que há probabilidade de a imprensa pública não tratar de forma igual, em época de eleições, os diferentes atores políticos.
“Tudo aponta que, num cenário mais lá para frente, essa imprensa vai acabar por ter um papel pior em relação ao que tem tido agora”, considera.