Ucrânia, ataques cibernéticos e direitos humanos fizeram parte da agenda
O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, descreveu a reunião com o seu homólogo russo em Genebra de “boa” e “positiva”, mas ressalvou que os próximos meses servirão de “teste” para saber se as relações entre os dois países podem melhorar.
“Não estou sentado aqui para dizer que eu e o Presidente concordamos fazer estas coisas para que de repente tudo funcione”, disse Biden na conferência de imprensa depois da cimeira na quarta-feira, 16.
Ele acrescentou acreditar haver “uma perspectiva genuína de melhorar significativamente as relações entre os nossos dois países, sem abrirmos mão de uma coisa única e solitária baseada em princípios e nos nossos valores”.
O Presidente russo também classificou a cimeira como “construtiva” e revelou não ter havido “hostilidades”, no encontro com Biden, a quem chamou de “uma pessoa construtiva, equilibrada e experiente, um político experiente”.
Embora ambos tenham notado que as negociações foram produtivas, há muitas divergências.
Ucrânia, ataques cibernéticos e direitos humanos
Na conversa com os jornalistas, Joe Biden afirmou haver desacordos, mas os temas “não foram abordados numa atmosfera hiperbólica” e que “nenhuma ameaça” foi feita durante a reunião.
Essas disputas incluem a questão da Ucrânia, ataques cibernéticos e direitos humanos.
“Eu disse-lhe que temos capacidade cibernética importante, e ele sabe disso. Ele não sabe exactamente o que é, mas é significativo”, afirmou Biden, revelando ter advertido a Putin que a infraestrutura dos EUA deveria estar “fora dos alcances” a ataques cibernéticos.
O Presidente pareceu sugerir que, se Moscovo lançar tal ataque, os EUA podem retaliar “de uma forma cibernética”.
“Olhei para ele e disse: ‘Bem, como você se sentiria se o ataque atingisse os oleodutos dos seus campos de petróleo?’”, revelou.
No entanto, o Presidente russo negou as acusações dos Estados Unidos de intromissão nas eleições e de ataques cibernéticos contra empresas americanas, que as agências de inteligência dos EUA concluíram ter vindo do território russo.
Os direitos humanos também estiveram em debate, por iniciativa do Presidente americano.
“Os direitos humanos estarão sempre em cima da mesa”, disse Biden, que abordou com Putin os casos da prisão do opositor Alexey Navalny e Trevor Reed, um ex-fuzileiro naval dos EUA preso na Rússia porque “isso é quem somos”.
Na conferência de imprensa, Putin permaneceu firme na sua posição em relação a Navalny.
“Este homem sabia que estava infringindo a lei da Rússia, ele foi condenado duas vezes”, disse Putin, mantendo o hábito de não dizer o nome do ativista da oposição em voz alta.
Por seu lado, Joe Biden ressaltou a demanda por liberdade de imprensa.
“Também coloquei a questão da capacidade de operação da Radio Free Europe / Radio Liberty e a importância de uma imprensa e da liberdade de expressão livres”, disse Biden referindo-se à aos meios de comunicação financiados pelos pelos EUA que foram rotulados como “agentes estrangeiros” pelo Governo russo e acusados de violar regras que poderiam ser punidas com pesadas multas, até prisão.
Comunicados idênticos
Após a cimeira, tanto a Casa Branca como o Kremlin divulgaram declarações idênticas, observando que “mesmo em períodos de tensão”, os dois países demonstraram que são capazes de avançar em “objectivos comuns de garantir previsibilidade na esfera estratégica, reduzindo o risco de conflitos armados e a ameaça de guerra nuclear”.
Ambos os Governos disseram que vão iniciar consultas sobre a estabilidade estratégica para gerir as relações entre Washington e Moscovo.
Outro ponto destacado pelas partes foi a recente extensão do Novo Tratado START que “exemplifica o nosso compromisso com o controlo de armas nucleares”.
Os dois Governos vão dar início também a um diálogo de estabilidade estratégica bilateral, no qual as duas partes procurarão “estabelecer as bases para futuras medidas de controlo de armas e redução de risco”.