A nomeação de personalidades experientes e pró-europeias para cargos importantes (relações exteriores, Europa, economia) marca uma forma de continuidade da política italiana. No entanto, a prioridade do novo executivo vai ser a situação económica.
Depois de oferecer uma vitória clara à coligação de direita que Giorgia Meloni lidera, depois de ter dominado a maioria apesar de semanas de tensão, a primeira-ministra italiana, 45, tomou posse esta sexta-feira, 21 de Outubro, e apresentou este sábado o seu governo.
Trata-se da primeira mulher a ocupar o cargo na história do país. Após uma reunião com o presidente da República, Sergio Mattarella, que a chamou pela manhã para formar seu governo, a líder de extrema-direita entregou a lista de ministros, após intensas negociações e momentos de conflito com os aliados.
O seu partido, Fratelli d’Italia, subiu de 4% dos votos nas eleições legislativas de 2018 para 26% na votação de 25 de Setembro, e surge do movimento pós-fascista, do qual Giorgia Meloni faz parte desde os seus 15 anos. Foi neste partido que construído toda a vida política associando seu nome a um compromisso radical quanto a questões de identidade. A composição do novo executivo reflecte tanto o desejo de manter o equilíbrio dentro da direita italiana, a preocupação de garantir aos parceiros de Roma uma promessa de normalidade institucional, bem como uma certa continuidade com os compromissos europeus e transatlânticos, associados à figura do primeiro-ministro cessante, Mário Draghi.
Foi em Bruxelas que Mário Draghi passou o último dia do seu mandato. Em Fevereiro de 2021, Draghi assumiu a chefia de um governo de unidade nacional com forte presença tecnocrática para responder à crise desencadeada pela pandemia de Covid-19. Na altura, Fratelli d’Italia representou a única oposição até à queda em Julho. De regresso ao Conselho Europeu dominado pela crise de energia, o Presidente cessante do conselho vai entregar o bastão a Meloni na manhã de domingo. O novo governo vai ter que enfrentar as emergências económicas associadas à guerra na Ucrânia.
“Draghi e Meloni tiveram um óptimo relacionamento quando ela estava na oposição. Partilham, agora, a mesma visão sobre grandes questões internacionais e europeias”, afirmou o senador (Fratelli d’Italia) Giovanbattista Fazzolari, que pertence ao círculo íntimo da nova presidente do conselho.
No primeiro governo liderado por uma personalidade do movimento pós-fascista, os próximos meses poderão ficar marcados por batalhas culturais. A economia vai ser a prioridade para o novo executivo. A nomeação de Gennaro Sangiuliano, membro do Movimento Social Italiano (MSI, extrema direita) na década de 1980 e antigo director do telejornal RAI 2, para o Ministério da Cultura, é reveladora nesse sentido.