Israel bombardeou alvos do Hamas na Faixa de Gaza na madrugada desta quarta-feira (16/06), após balões incendiários serem lançados a partir do enclave palestino. Foram os primeiros ataques desse tipo desde que um cessar-fogo encerrou em Maio 11 dias de conflito, que deixou centenas de mortos.
A violência impõe um teste tanto ao cessar-fogo quanto ao governo do novo primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, cuja coligação ascendeu ao poder no último domingo com a promessa de evitar decisões políticas sensíveis em relação aos palestinos. Bennett é ele mesmo um nacionalista judeu, mas aliados do ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu o acusam de traição por se aliar com políticos árabes e da esquerda.
Num primeiro momento, o cessar-fogo que conteve os recentes confrontos entre Israel e militantes do Hamas, mediado pelo Egipto e que entrou em vigor em 21 de Maio, não parece estar ameaçado pelos novos incidentes, tendo a região amanhecido de maneira tranquila após os bombardeios israelitas na madrugada. Não há relatos de vítimas em nenhum dos lados.
A violência desta noite ocorreu na sequência de uma marcha de mais de mil nacionalistas judeus e activistas de extrema direita em Jerusalém Oriental nesta terça-feira. O Hamas, grupo islâmico que controla a Faixa de Gaza, havia ameaçado reagir à manifestação.
O Exército de Israel disse que atacou alvos do Hamas nas cidades de Gaza e Khan Younis, localizada no sul do enclave, e afirmou estar “pronto para todos os cenários, incluindo novos combates diante da continuidade de actividades terroristas que emanam da Faixa de Gaza”.
Os militares israelitas afirmaram que os bombardeios foram uma resposta ao lançamento de balões com material incendiário, os quais, segundo bombeiros de Israel, causaram 20 incêndios em campos abertos em comunidades próximas à fronteira com a Faixa de Gaza.
Confirmando os ataques de Israel, um porta-voz do Hamas afirmou que palestinos vão continuar a exercer a “sua corajosa resistência e defender os seus direitos e locais sagrados” em Jerusalém.
Marcha das Bandeiras
Durante a manifestação desta terça, chamada de Marcha das Bandeiras, nacionalistas judeus e extremistas passaram pela Cidade Velha de Jerusalém, que reúne locais de grande importância religiosa tanto para muçulmanos quanto para judeus e cristãos. Eles se reuniram perto da Porta de Damasco, que dá aceso ao bairro muçulmano, antes de se dirigirem ao Muro das Lamentações, o que foi condenado por palestinos. Alguns manifestantes gritavam “morte aos árabes”.
Em meio ao clima tenso, policiais israelitas bloquearam ruas e lançaram granadas de efeito moral para tentar remover palestinos da rota principal da marcha. Médicos afirmaram que 33 palestinos ficaram feridos, e a polícia disse que dois policiais tiveram ferimentos e 17 pessoas foram presas.
A marcha celebrou a chamada “reunificação” de Jerusalém, após Israel capturar Jerusalém Oriental da Jordânia em 1967 e anexá-la, um passo não reconhecido pela maior parte da comunidade internacional.
A Marcha das Bandeiras desencadeou protestos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Analistas sugerem que o Hamas não lançou foguetes durante a marcha e após os ataques de Israel para evitar uma nova onda de violência na Faixa de Gaza, que foi devastada pelos bombardeios israelenses em Maio.
Os 11 dias de confrontos deixaram 260 palestinos mortos, segundo autoridades da Faixa de Gaza. Em Israel, 13 pessoas foram mortas por projécteis disparados a partir do lado palestino, incluindo um soldado, de acordo com o Exército e a polícia de Israel.