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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Igrejas devem ser intervenientes na situação política e social, defendem analistas angolanos

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A igrejas podem inspirar os sistemas de desenvolvimento político e contribuir para a construção do bem-estar social do país, dizem especialistas que olham para a fiscalização da gestão da coisa pública como tarefa também das instituições religiosas de modo a que os programas traçados estejam de acordo com as necessidades do povo e dos fiéis.

A Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) considerou recentemente que o quadro social angolano é marcado por uma “pobreza assustadora com a perda do poder de compra dos cidadãos, desemprego galopante e degradação de hábitos e costumes”.

Os bispos católicos fizeram tais pronunciamentos no final da I Assembleia Plenária anual, na qual referiram que o quadro sociopolítico do país é igualmente marcado pelo vazio de diálogo entre os partidos e a sociedade civil e elevados níveis de intolerância.

A CEAST pronunciou-se igualmente sobre a situação da seca e da fome no sul de Angola e exigiu a declaração do estado de emergência.

Estas declarações provocaram reacções de diversas fontes que afirmam que a Igreja não se deve imiscuír em questões políticas

Para o jurista e filósofo José Candeeiro, a igreja, composta pelas pessoas, deve ter uma palavra perante as injustiças, não sendo o seu papel se distanciar dos pobres, indigentes e os esquecidos pelas políticas do Governo.

“E isto passa por fazer apelos que visem a defesa da saúde da pessoa, a defesa do bem e do bem da pessoa na sociedade em geral para maior honra e glória de Deus. Uma igreja que se distancia do mal é esta igreja que precisamos. Agora, a igreja que se cala perante o mal, melhor seria não existir”, afirmou.

“O ideal da religião e das igrejas é trazer o bem-estar aos seres humanos para que estes exerçam as suas faculdades de modos que possam ser pessoas úteis à sociedade”, aponta o teólogo Bitombokele Lei Gomes Luangani.

Lei Gomes aponta a necessidade da igreja conceber programas que ajudam os crentes a desenvolverem capacidades para resolver os problemas da sociedade.

“Um programa de instrução para desenvolver as capacidades proactivas dos crentes, por exemplo, a questão da independência integral. Os Kimbanguistas têm um programa que lhes permite formar crentes capazes de produzir riqueza por si próprios. Por isso eles têm um sistema que lhes permitem resolver problemas da sociedade localmente onde estiverem para poderem trazer competências sociais, caso dos hospitais e outras Infraestrturas. Neste contexto, a religião torna-se uma ferramenta de desenvolvimento social”, aponta.

O teólogo cita como exemplo de inspiração de desenvolvimento político as autarquias locais, conceito relacionado ao desenvolvimento comunitário local, “que são sistemas encontrados nas paróquias das igrejas.

“O sistema das paróquias é político e reflecte a gestão da coisa pública comunitária, onde os cristãos se encontram para analisar como podem desenvolver as suas comunidades religiosas. Este sistema pode inspirar políticas de gestão do Estado ou do Governo”, diz Luangani, para quem não se pode separar o conceito da política no contexto religioso e no contexto do Estado.

É dever das igrejas lutar por uma Angola mais democrática, desenvolvida e por um Estado de Direito, defende, por seu turno, o jurista José Candeeiro quem acredita que as instituições religiosas são as entidades mais equidistantes e com capacidade de defender a existência de um Estado democrático e de direito, incentivando a participação activa dos fieis na vida política, social e económica do país.

“A melhor maneira das igrejas contribuírem para o desenvolvimento é incentivar a cultivar capacidade de iniciativas privadas de negócio, de um lado. Por outro, para democracia, incentivar que em cada um haja o sentido de respeito à opinião dos outros que são fieis, cidadãos e filhos de Deus”, diz.

Para Candeeiro “as igrejas têm a função de incentivar que cada cidadão tenha a noção de que é político por natureza e que os seus direitos são reivindicáveis para que haja união dos esforços, justiça na distribuição e tolerância nas actividade de cada respeitando sempre a pessoa e a lei”.

Portanto, diz o advogado, “as igrejas são importantes para o desenvolvimento da pessoa toda e de toda a pessoa a partir dum vértice que é a dignidade da pessoa humana e isto, passa pela democraticidade dos actos, pelo respeito à lei e também pela construção de infraestrturas que garantam a dignidade e o bem viver das pessoas filhas de Deus”.

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