O grupo chama-se Noble e nasceu em Angola no ano de 2003, onde actua no segmento do Comércio por grosso e a retalho, além da indústria. Em 2014, criou a insígnia AngoMart, através da qual passou a liderar a notabilidade dos negócios no país.
Mais recentemente, optou por lojas de proximidade, Freshmart. Até ao momento, só no segmento de retalho possui 70 lojas distribuídas por 14 províncias. Em Luanda são já 43 e nas demais províncias somam até aqui 27 unidades comerciais.
O Noble Group é uma empresa de direito angolano, mas de investimento estrangeiro. Como dissemos nalgum momento atrás, o grupo nasceu em Angola, em 2003 e o seu gestor máximo está desde à data aqui no país. A motivação além da oportunidade de fazer negócio foi ver em como poderíamos participar nos esforços de prover serviços e com a qualidade e experiência de que dispomos.
A concentração da economia por Luanda não pressiona o plano estratégico do grupo?
A concentração por Luanda é uma realidade que pouco ou nada podemos fazer. Quem deve ajustar-se é seguramente o operador e não o consumidor. Hoje, o consumidor é mais conhecedor, mais exigente, tem maior domínio dos padrões internacionais. É, por isso, que devemos adaptar-nos a eles e nunca o inverso.
O AngoMart é o carro-chefe dos negócios ou apenas o que ganhou maior notoriedade?
O AngoMart é a marca de maior notoriedade e também, desde 2014, é a que impactou de forma mais positiva na vida das nossas comunidades. Queremos ter sempre a melhor relação preço-qualidade e isso fazemo-lo como padrão e promessa com os consumidores. Temos seguido essa visão desde 2014 com as lojas AngoMart, daí serem a referência que hoje representam no universo Noble Group e no mercado da distribuição moderna.
A vossa marca é já uma referência na distribuição moderna?
Somos. Mas, em boa verdade é o consumidor quem decide. Trabalhámos todos os dias e reinvestimos no país como resposta à confiança que sentimos dos consumidores. Por exemplo, nos anos de 2014 e 2015, altura do melhor período da economia nacional, muitos poucos operadores tiveram a visão e a coragem de reinvestir os lucros a pensar no futuro. No nosso caso, foi nesse período em que iniciámos a apostar nas indústrias.
Normalmente, vocês não avançam os valores dos investimentos. Qual a dificuldade de falarem destes números?
Não há nenhuma dificuldade. É apenas uma política da empresa. Preferimos que a realidade fale por nós. Nenhum consumidor pede-nos o valor dos investimentos (só os jornalistas rsrsrsrsrs). A preocupação que temos é proporcionar a melhor qualidade-preço ao consumidor. Se está satisfeito com isso, também ficamos.
O que ganha um trabalhador da vossa empresa?
É uma boa questão, mas devo desafiá-lo a ir às nossas páginas nas plataformas sociais do Linkdin, por exemplo, e lá se encontra o salário proposto já na admissão de um funcionário, desde o gerente aos atendedores de caixa. Preferimos tornar clara as regras de jogo. Sabemos que isso não é comum, mas é também opção do grupo.
E no campo social o que fazem?
O facto é que aqui fazemos muito e comunicamos muito pouco. Deveremos ser das empresas, que nessa época de confinamento, terá distribuído mais cestas básicas. Em Junho, por exemplo, fizemos duas acções sociais, juntamente com a União Europeia e fomos limpar a praia, pois investimos bastante na educação, no ambiente e na saúde.
Fale-nos sobre como abastecem as lojas numa fase de restrições nas importações, menos divisas à disposição e um consumo mais elevado…
As prateleiras vazias não estão associadas às dificuldades de abastecer as lojas. São outros desafios que estejam a enfrentar as referidas marcas, pois, hoje, é possível ter produto para abastecer ao consumidor.
90 por cento da fruta e verdura do AngoMart vêm do mercado local. A carne que vendemos é proveniente do Cuanza-Sul (Wuaku Kungo) e Huíla (Lubango). O arroz e a massa, por exemplo, também são abastecidos por produtores locais.
E em relação aos empregos criados, qual é o vosso ponto de situação?
Se considerarmos as duas últimas lojas inauguradas em Junho, nas quais criámos 60 empregos no Largo do Ambiente e 150 em Talatona, que totalizam, 210 de postos de trabalho directo e outros 250 indirectos, mais toda as mudanças previstas até ao final do ano que vão proporcionar novos 400 empregos directos e 600 indirectos, podemos afirmar que a nova imagem da AngoMart traz ao mercado 610 postos de trabalho directo e outros mais de 1.000 indirectos.
Onde são formados os operadores das lojas AngoMart e quais os critérios de admissão?
Tivemos que nos preparar para assegurar o plano de expansão. Para tal, criámos uma escola de formação em Fevereiro deste ano e quando fazemos os processos de admissão, o candidato faz testes de selecção com avaliação básica das aptidões em Matemática e Língua Portuguesa, depois avançamos para um outro nível em que avaliamos a atitude muito mais do que a experiência.
No vosso Plano Estratégico, o que está previsto para a construção de novas lojas, províncias, trabalhadores a admitir e o tempo de execução dos mesmos?
Neste momento, no segmento de retalho, temos um total de 70 lojas, espalhadas por 14 províncias, incluindo Luanda, onde estamos com 47 unidades e outras restantes 27 divididas em 13 províncias. Atendendo à situação do mercado e da economia em si, não perspectivamos novas lojas para as restantes quatro zonas do país onde não estamos representados por lojas, mas que, seguramente, recebem os nossos produtos através de agentes.
Há um tempo, o AngoMart era muito falada por oferecer preços baixos. O que mudou?
É o consumidor quem manda. Acho que ainda somos o operador com o melhor preço. A nossa promessa foi, é e será a melhor relação preço-qualidade para o consumidor. Ao menos, fazemos tudo para cumprir esse desejo. Nisso, estamos a acrescentar variedade, frescura, proximidade, investindo em marcas próprias e também juntar à oferta marcas internacionais de reconhecida referência.
O sector da distribuição queixa-se muito da contrafacção e o dumping. Como encara estes fenómenos?
A mim me parece que estes factores não estão associados ao sector formal. Acho não ser preocupação do sector formal. É mesmo um não tema para nós. É possível haver dumping, mas os controlos de contabilidade protegem os operadores.
Quais as grandes dificuldades do sector alimentício?
Estamos preocupados com duas coisas. Somos favoráveis às políticas que fomentem a indústria e a agricultura. Contudo, também preocupa-nos não se perder o objectivo disso tudo: criar empregos, fazer crescer a economia e ter preços competitivos para o consumidor final. E, isso seguramente, poderá privilegiar o produzir localmente em detrimento das importações.
Só para previsar, em que províncias e com que serviços estão presentes com as vossas lojas?
Até ao momento, estamos presentes, além de Luanda, nas províncias de Cabinda, Zaire, Cuanza-Sul, Huambo, Benguela, Huíla, Uíge, Cuando Cubango, Bié, Moxico, Lunda-Sul, Lunda-Norte e Malanje, que totalizam 27 lojas.
Daqui há 10 anos que AngoMart teremos?
O mercado nacional é muito dinâmico e de seis em seis meses apresenta muitas alterações. Precisa-se de muita agilidade. O que podemos dizer é que até ao final deste ano, teremos no total 15 lojas, todas já com a nova imagem. E para os próximos três anos, podemos imaginar a abertura de mais cinco ou dez lojas.
Recentemente, a direcção do grupo esteve em Cabinda…
Cabinda também é um mercado em que estamos presentes. Apesar da descontinuidade territorial, ainda assim, valorizamos o mercado local e estamos a preparar a remodelação da loja, passando-a do formato actual para uma infra-estrutura do tipo a inaugurada em Talatona (com quatro mil metros quadrados), são só com melhor imagem visual e forma de disposição das prateleiras, mas também com mais diversidade de bens e serviços.
PERFIL
Nome
Hugo Moutinho
Idade
47 anos
País de origem
França
Início de carreira
Há 20 anos no retalho alimentar
Percurso profissional/empresarial
Já trabalhou na Alemanha, França, Portugal, Itália e Países Baixos
Vinda para Angola
Há 4 anos
Maiores desafios em Angola
Fazer crescer as comunidades onde estivermos presentes
Contributo à economia angolana
Sou um homem de desafios e por isso vim para cá. Consegui descobrir que aqui se precisa de resiliência e muita agilidade e forte capacidade de decisão
Como lida com o dia-a-dia?
Vestido de forma pouco formal e no terreno ver a concorrência, incluindo os mercados informais para ter ideia de preços e da melhor oferta
Então conhece o Catinton?
Sim e muito bem. Já fomos ao Catinton, Kwanzas, Mercado do 30, Estalagem, ou seja, vamos a todos os mercados informais, além dos concorrentes, para podermos conhecer a realidade
Como vê os próximos 10 anos?
O tempo é de incerteza, mas precisa-se de cada vez mais confiança