Alfredo Santos, o homem que foi condenado a 25 anos de prisão por ter matado a freira “Tona” admitiu em tribunal ter tentado roubar o carro a uma mulher, em junho de 2019, em São João da Madeira. Diz não se recordar dos pormenores sobre as alegadas agressões à vítima e da tentativa de rapto por estar sob efeito de drogas.
No julgamento, que se iniciou esta terça-feira no Tribunal da Feira, Alfredo Santos responde por um crime de roubo, um de rapto e outro de ofensa à integridade física, na forma qualificada. Crimes que terão sido cometidos em junho de 2019, um mês depois de ter sido colocado em liberdade condicional, após cumprimento de uma pena de 16 anos por rapto e violação de uma outra mulher.
De acordo com a acusação do Ministério Publico, entrou numa garagem de um prédio de São João da Madeira onde tentou raptar uma mulher para, alegadamente, com ela ter relações sexuais.
Perante o coletivo de juízes, o arguido negou essas intenções, referindo que apenas queria roubar o carro. “Foi uma encomenda. Ia entregar o carro que me encomendaram [roubar]”, alegou Alfredo Santos, referindo que pretendia, desta forma, pagar uma dívida de 3500 euros relacionada com a aquisição de droga.
Confirmou alguns dos factos da acusação, mas ao ser confrontado com os pormenores das agressões, disse não se lembrar. “Ingeri álcool e drogas e não me lembro de tudo”, justificou.
Contou que, antes de entrar na garagem, esteve dois dias a vigiar a mulher para saber dos horários em que esta ali entrava com o carro.
Já no interior da garagem, confirmou que lhe tentou tirar a chave do carro, mas como a mulher recusou entregá-la, tentou fazer com que ela entrasse no veículo. “Não queria que alguém a ouvisse a gritar”, disse.
“Não queria fazer mal à senhora, só queria roubar-lhe o carro”. “Não me recordo de a ter agredido”, adiantou.
Chegou, no entanto, a admitir como “possível” ter levado a efeito os factos que constam na acusação.
As agressões à mulher e a alegada tentativa de rapto foram interrompidas pela chegada de um vizinho da vítima à garagem, tendo o arguido saído do local.
A vítima contou que, depois de estacionar o carro, foi repentinamente abordada por Alfredo Santos que lhe tentou retirar a chave.
Como não conseguiu, “agarrou-me com o braço pelo pescoço a tentar sufocar-me”. Depois de resistir alguns momentos, “abri a mão para ele ficar com a chave e tentei afastar-me o mais possível dele”.
Contudo, o arguido acabou por voltar a prender a mulher pelo pescoço, ao mesmo tempo que a ameaçava com uma lâmina e, alegadamente, com intenção de a colocar na mala do carro. “Disse-me para me meter na mala, mas eu disse-lhe que não ia”.
“Disse que queria falar comigo e que me trazia ao fim de meia hora (…) que me ia adormecer”, contou a mulher, que só conseguiu libertar-se do agressor com a chegada de um vizinho, a quem pediu auxílio. “Nessa altura abandonou a garagem calmamente”, referiu.
“Eu só queria que isto não acontecesse a ninguém”. “Eu era uma pessoa livre e agora não sou (…) é o perder de uma vida”, afirmou, em lágrimas.
Sabia que o marido estava em casa
A vítima contou em tribunal que Alfredo Santos sabia que o marido se encontrava na habitação. “Ele disse-me que o meu marido estava em casa e que queria falar comigo”, lembrou a mulher.
Não anda sozinha na rua
Desde o ataque de que foi alvo, a vítima passou a ser seguida com regularidade por um psicólogo. Diz que há dias em que não consegue dormir e que nunca mais conseguiu andar sozinha na rua.
Matou freira três meses depois
Alfredo Santos matou a freira “Tona” em setembro de 2019, três meses após este episódio na garagem do prédio em São João da Madeira. Foi condenado a 25 anos de prisão pelo homicídio, mas também pela tentativa de rapto de outra mulher num parque da cidade.