“Depois dos abomináveis ataques do Hamas em 07 de Outubro, a destruição total de Gaza e o número de vítimas civis causadas pelo exército israelita num período de tempo tão curto não têm precedentes”, afirmou António Guterres a partir de Kampala, no Uganda, onde participa na 19.ª cimeira do Movimento dos Não-Alinhados.
Guterres recordou que 152 trabalhadores da ONU estavam entre os mortos, “uma tragédia desoladora para a organização, para as suas famílias e para aqueles que estavam a trabalhar em Gaza”.
Os trabalhadores humanitários “fazem o seu melhor para prestar ajuda”, mas “enfrentam bombardeamentos constantes e perigos diários para si próprios e para as suas famílias”, afirmou.
“As pessoas morrem não só por causa das bombas e das balas, mas também por falta de alimentos e de água potável, por falta de electricidade e de medicamentos nos hospitais e por causa das viagens penosas para porções de terra ainda mais pequenas para escapar aos combates”, alertou.
Para Guterres, o conflito “tem de acabar”.
“Não vou desistir do meu apelo a um cessar-fogo imediato e humanitário e à libertação incondicional de todos os reféns. E temos de fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para evitar que este conflito afecte outros países da região e a Cisjordânia”, acrescentou, numa referência ao Líbano, à Síria e ao Iraque e à situação de insegurança no Mar Vermelho.
O líder da ONU também classificou como inaceitável a recusa do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, da solução dos dois Estados, israelita e palestiniano.
No encerramento da cimeira, os líderes do Movimento dos Não Alinhados condenaram a “agressão militar ilegal israelita” na Faixa de Gaza, no encerramento da sua 19.ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, realizada em Kampala.
“Condenamos veementemente a agressão militar ilegal israelita contra a Faixa de Gaza, os ataques indiscriminados contra civis e bens palestinianos e a deslocação forçada da população palestiniana”, afirmaram, no comunicado final da reunião.
“Apelamos ainda a um cessar-fogo humanitário imediato e duradouro”, sublinharam os líderes, na chamada “Declaração de Kampala”.
A guerra em Gaza marcou as conversações da cimeira, com numerosos apelos para que o grupo exigisse o fim das hostilidades e apoiasse a independência do Estado da Palestina.
O movimento rejeita “o colonialismo, a ocupação e o domínio do território palestiniano”, refere ainda a posição.
“Reiteramos a necessidade de progressos substanciais e urgentes para pôr fim à ocupação israelita, incluindo a independência e a soberania do Estado da Palestina, com Jerusalém Oriental como sua capital, a fim de alcançar uma solução de dois Estados”, segundo o documento.
A cimeira reafirmou ainda o seu apoio para que “o Estado da Palestina seja admitido como Estado-membro das Nações Unidas e ocupe o lugar que lhe cabe na comunidade das nações”.
O Movimento dos Não-Alinhados, uma das maiores organizações de Estados do planeta, é composto por 53 países de África, 39 da Ásia, 26 da América Latina e das Caraíbas e dois da Europa.
A cimeira reuniu 24 chefes de Estado e de Governo, principalmente de África, em Kampala, desde sexta-feira. JM