Em entrevista à agência de notícias Lusa, a investigadora portuguesa Alexandra Magnólia Dias defende que a alegada tentativa de golpe de Estado de 01 de Fevereiro na Guiné-Bissau, terá sido uma encenação, enquadrada no crescente número de golpes na região, que permitiu ao Presidente Sissoco impor medidas autoritárias.
“Na última tentativa de golpe de Estado, que no entender de vários não é verdadeiramente um golpe de Estado, e mesmo a forma como ele é apresentado pelo próprio chefe de Estado Sissoco, não é muito convincente. Há várias pontas soltas. Sissoco alega que são elementos dentro das forças armadas que têm ligações ao crime transnacional organizado e que aquilo é um ajuste de contas. As histórias não estão muito bem clarificadas. O que importa depois perceber, para além do alegado golpe de Estado, são as medidas tomadas para reprimir alguns elementos e, também, medidas de controlo para reduzir o espaço de manifestação de opinião contrária da oposição dentro da sociedade civil. É aqui que é preocupante”, sublinhou a investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova de Lisboa.
A entrevista foi realizada a propósito do 10.º aniversário do golpe de Estado de 12 de Abril de 2012 na Guiné-Bissau que depôs o Presidente da República interino, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior, em pleno período eleitoral.
Dez anos após o golpe, a Guiné-Bissau voltou a ser palco de um incidente que o Presidente, Umaro Sissoco Embaló, disse ser uma tentativa de golpe de Estado promovida por três narcotraficantes detidos no passado pela agência antidroga norte-americana. Todavia, partidos políticos da oposição e organizações da sociedade civil questionam a veracidade do golpe e admitem ter-se tratado de uma encenação.