Últimas medidas adotadas pelo Governo guineense provocam greve de cinco dias. Sindicatos e cidadãos reiteram que direitos fundamentais são inegociáveis e são básicos para a sobrevivência.
Na Guiné-Bissau, começou à meia noite desta segunda-feira (10.10) a greve geral nos setores da educação e da saúde, convocada pela Frente Social dos sindicatos das duas áreas. Os sindicatos exigem o pagamento dos salários em atraso e a revogação dos despachos que suspendem professores e técnicos de saúde, e nega-lhes a admissão na função pública.
Com o Governo e os sindicatos de costas voltadas há mais de um ano, a paralisação que arranca esta segunda-feira nos setores da educação e da saúde tem consequências imprevisíveis. Eleva o nível de apreensão dos guineenses.
“Estou muito preocupado, enquanto cidadão guineense, com a questão da greve na educação e saúde da Guiné-Bissau. São dois setores que podemos considerar frágeis. Sem escola e saúde, a situação é prejudicial”, lamentou um dos cidadãos.
As últimas medidas adotadas pelo Governo nas duas áreas não agradam aos sindicatos, que já se prontificam dar início a uma greve de cinco dias.
“Acho que a greve é uma questão muito importante e que deve ser tratada, porque a vida de uma pessoa é fundamental ter uma boa educação e saúde”, considerou.
Para estes cidadãos, a educação e a saúde são direitos inegociáveis.
“A greve preocupa-me porque está em causa a preterição de acesso a alguns direitos fundamentais que, normalmente, são inegociáveis e são básicos para a sobrevivência.”
Aumento da massa salarial
A relação entre o Governo e os sindicatos adensou-se ainda mais após o executivo decidir, em 25 de agosto passado, não admitir mais a entrada dos novos professores e técnicos de saúde para as duas áreas. O argumento do Governo é estancar o aumento da massa salarial do país.
Esta medida é seguida pela suspensão de mais de mil novos ingressos de técnicos de saúde que haviam sido admitidos. Além do cancelamento do salário de setembro dos professores que ingressaram recentemente.
Agora, os sindicatos apresentam um conjunto de exigências ao Governo. As principais exigências são o pagamento de salários em atraso e a readmissão dos técnicos na administração pública.
O porta-voz da Frente Social dos sindicatos da educação e da saúde, Ioio João Correia, disse à DW África que os seus associados estão a ser retaliados.
“Há dificuldade de dar horário [para lecionar] aos professores que costumam aderir à luta sindical. E em relação ao setor de saúde, temos conhecimento de comportamentos de transferências [dos técnicos], e vários outros impedimentos. Por exemplo há um caso de Bubaque (zona insular do país), onde um dos elementos do sindicato foi impedido de vir estudar em Bissau, como outros profissionais que também têm direito, porque foi um dos visados como perturbadores do sistema naquela região.”
Consequências da greve
No último sábado (08.10), na abertura oficial do ano letivo 2022/2023, o presidente da Associação Nacional dos País e Encarregados da Educação, Abdu Indjai, disse não acreditar no sucesso do novo ano escolar.
“As políticas e as medidas tomadas pelos dirigentes [do país] em relação a educação, nesses últimos anos, desencoraja-nos e leva-nos a ter reticências e não creditação no sistema educativo nacional. Como consequência, os pais sentem-se, já, muito apreensivos com o início das aulas após a sua abertura [pelo Governo]”.
Observadores temem as consequências da greve, principalmente para o setor da saúde. Em setembro de 2021, várias pessoas morreram após um boicote levado a cabo pelos profissionais da área.