O presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, anunciou hoje que marcou uma nova sessão da Assembleia Nacional para quarta-feira, numa conferência de imprensa na sede do Partido Vontade Popular, após o bloqueio militar que impediu a sessão marcada para hoje.
Horas depois do bloqueio efectuado por dezenas de elementos da Guarda Nacional Bolivariana, da polícia e do Serviço de Inteligência (Sebin), que impediram a entrada no edifício dos deputados da oposição, Juan Guaidó declarou que se trata de uma tentativa de “amordaçar” o parlamento, do qual é presidente e onde a oposição tem a maioria.
“Pensavam que era a perseguir deputados que nos iam fazer desistir? Pensavam que todos íamos desistir, estudantes, Igreja, sindicatos, grémios? Pensavam que nos iam fazer desmobilizar?”, afirmou, numa declaração em Caracas transmitida apenas em canais na internet, aos quais a maioria dos venezuelanos não tem acesso.
De acordo com o JN que cita a Lusa, ao mesmo tempo decorre uma sessão da Assembleia Nacional Constituinte, constituída apenas por elementos do regime socialista, essa, sim, com direito a transmissão em directo na televisão estatal, a VTV, Venezuelana de Televisão.
Guaidó pediu respeito pelos deputados, que “são os únicos que têm legitimidade para representar o povo, pois foram eleitos através de voto popular”.
Referindo-se à acção da polícia secreta, o Sebin, que “anda a perseguir deputados”, mas “com pouca inteligência”, o presidente interino denunciou ainda o uso de dinheiro que “roubaram para comprar armas que servem apenas para amedrontar o povo, para exercer terror e perseguição”.
Juan Guaidó disse ainda que os venezuelanos anseiam por uma mudança no país: “As pessoas precisam de uma mudança urgente”, declarou.
“Estamos claramente à beira de uma mudança e [o regime] está a tratar de minimizar a Assembleia Nacional”, afirmou o líder da oposição.
Guaidó disse ainda que se for necessário a Assembleia realizará sessões na rua, acusando o regime de “ter força bruta”, mas advertindo que o Palácio Federal pertence ao parlamento, um direito “ao qual não renunciará”.
Forças de segurança venezuelanas foram hoje de manhã mobilizadas para o parlamento, bloqueando o acesso por parte dos deputados, que tinham agendado um debate, sob o pretexto de haver um explosivo dentro do edifício, revelaram fontes da oposição.
Mais de uma centena de elementos da Guarda Nacional Bolivariana, da polícia e do Sebin impediram a entrada de deputados no parlamento, sem oferecer qualquer explicação.
Esta situação, que já ocorreu no passado, foi qualificada pelo deputado Franklyn Duarte como uma acção que faz “parte da estratégia” do Presidente do país, Nicolás Maduro, para “liquidar” o parlamento.
A sessão no parlamento não foi suspensa e, segundo as mesmas fontes, os deputados tentavam realizar o debate ordinário do dia.
A Assembleia tinha previsto debater hoje a “perseguição” contra os deputados que estão contra o Governo de Maduro, depois de o Supremo Tribunal de Justiça ter acusado 10 deputados de vários delitos, relacionados com a tentativa de revolta, encabeçada pelo presidente do parlamento e autoproclamado presidente interino da Venezuela, reconhecido por mais de 60 países, Juan Guaidó, em 30 de Abril.
Desde aí, foi levantada a imunidade parlamentar de sete dos acusados e foi detido um deles, o vice-presidente da Assembleia, Edgar Zambrano.
Estava previsto que dois dos deputados acusados pela tentativa falhada de revolta militar, Henry Ramos Allup e Simón Calzadilla, assistissem à sessão do parlamento, apesar da possibilidade de serem presos.