José Márcio Felício, 60, o Geleião, um dos oito fundadores do PCC (Primeiro Comando da Capital), morreu hoje por complicações da covid-19. Ele estava internado desde o último dia 9 de abril no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário, na zona norte de São Paulo.
Geleião estava preso na Penitenciária de Iaras (SP). Segundo fontes do sistema prisional, o preso testou duas vezes negativo para covid-19. Porém, como os sintomas da doença persistiram, ele foi levado para um hospital da região. Ele era o único fundador do PCC ainda vivo.
O prisioneiro foi submetido a exame de tomografia e, dessa vez, foi constatado comprometimento de mais de 50% dos pulmões. Como não havia vaga para internação no hospital da região, Geleião foi removido às pressas para a Capital, sob forte escolta policial.
Em abril, uma assistente social telefonou para Ana Paula Felício, mulher de Geleião. O médico do Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário havia comunicado que o preso tinha sido intubado e que o estado de saúde dele era gravíssimo.
Segundo Ana Maria Felício, atual mulher de Geleião, no ano passado, Glauco, o enteado dele, também foi vítima da mesma doença. O rapaz, filho da ex- mulher Petronilha, a Petrô, havia sofrido um acidente de moto e teve uma perna amputada.
Geleião estava preso havia mais de 41 anos
Geleião estava preso desde o dia 7 de julho de 1979. Dois meses antes, em 10 de maio, ele e o comparsa José Rubens Dias, o Binho, tiveram a prisão preventiva decretada. Ambos foram acusados de roubar e estuprar a estudante E.M.M. no Jardim Tietê, zona leste de São Paulo.
Os réus foram condenados a 12 anos, 11 meses e 25 dias. Geleião estava preso ininterruptamente havia 41 anos e dez meses. Em 31 de agosto de 1993, ele e outros sete presos fundaram o PCC na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, no Vale do Paraíba.
O fundador do PCC passou por várias prisões de São Paulo e também no Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná e Rio de Janeiro. Na cadeia, ele foi acusado de comandar vários crimes nas ruas como atentados em prédios públicos e assassinatos de agentes penitenciários, policiais e desafetos.
Em 2002, após uma violenta guerra interna no PCC, Geleião foi acusado de traidor e acabou excluído da facção criminosa. Meses depois, fundou outra organização, o TCC (Terceiro Comando da Capital). Esse grupo, no entanto, não teve muitos seguidores e deixou de existir em São Paulo.
Logo após ser expulso do PCC, Geleião passou a colaborar com o MPE (Ministério Público Estadual) e com a polícia. Ele fez delações —gravadas em vídeo— e revelou uma série de crimes cometidos pela facção quando ainda era um dos líderes do grupo.
Em meados dos anos 2000, ele foi retirado da prisão, com autorização do juiz Edmar de Oliveira Ciciliatti, da Comarca de Tupã (SP), para fazer escutas telefônicas de rivais do PCC. As interceptações das conversas eram feitas no quartel da Polícia Militar de Dracena.
Em troca pelos “serviços prestados”, o juiz Ciciliatti autorizou Geleião a sair da Penitenciária de Osvaldo Cruz (SP) para passar uns dias na casa ex-mulher Petronilha, também no interior paulista. Geleião foi até fotografado de cueca, na cama, segurando uma garrafa de cerveja.
Tanto a saída do prisioneiro para a casa da então mulher quanto a ida dele para fazer escutas telefônicas em um quartel da Polícia Militar vieram à tona à época e o caso se tornou um escândalo.
As autoridades prometeram benefícios para Geleião, mas nunca cumpriram. O preso, sem dinheiro para pagar advogado, fazia petições de próprio punho, à caneta, solicitando progressão para o regime semiaberto e para a sonhada liberdade.