Intervenção de Chissano foi determinante
“Hoje é Samora Machel (Júnior), mas há muitos que falam em surdina aí. Portanto, temos de nos reconciliar” – apelou
Segundo o site moçambicano Savana, Joaquim Chissano, antigo Presidente da República, teve, no decurso da III sessão ordinária do Comité Central da Frelimo, um discurso determinante para o refreamento da ideia de expulsar Samora Machel Júnior do partido, como castigo pela indisciplina que o filho de Samora Moisés Machel tem estado a demonstrar nos últimos tempos.
Nas vésperas da reunião, a tese da expulsão continuava a ser apontada como opção “A”, uma perspectiva interpretada como chamada de atenção e deixar devidamente claro que o partido não admite “confrontação” de ideias senão as habituais hosanas ao chefe máximo.
E Samora Júnior, achando-se injustiçado, tinha ido exactamente pelo caminho da confrontação directa, até com a figura máxima do partido, Filipe Nyusi. Samito, se sabe, chegou mesmo a exigir processo disciplinar partidário e demissão de Filipe Jacinto Nyusi.
Entretanto, tomando a palavra e numa intervenção de pouco mais de 20 minutos, Joaquim Chissano conseguiu falar e convencer aos seus pares sobre a necessidade de uma reflexão de cabeça fria. Pontualmente e de forma mais directa apontou que o que a Frelimo precisa é de reconciliação. E chamou atenção para a necessidade de não se pensar a reconciliação de fora para dentro ou de dentro para fora. Mas sim, de dentro para dentro.
Em vários momentos da abordagem, Chissano citou directamente o nome de Samora Machel Júnior. Disse que era filho e em situações “como estas” não se pode expulsar um filho de casa. Necessário sim é educá-lo.
Mas a abordagem de Joaquim Chissano cheirou, igualmente, à defesa clara de Samora Machel. Não disse taxativamente que Samora Júnior, ao reclamar o que reclamou, não tinha cometido qualquer pecado.
Mas disse, isso sim, que “dizer coisas duras a um camarada não é matá-lo. É salvá-lo. Por isso, queria apelar a mais diálogo entre nós” – anotou Chissano, ao que parece, referindo-se às críticas de Samora Machel ao funcionamento do partido.
Samora Júnior, se sabe, atacou de forma contundente e sem reservas o Presidente da Frelimo, Filipe Nyusi, segundo consta na argumentação de defesa à acusação de promover indisciplina no seio do partido.
Voltando a buscar histórias do passado para deixar clara a necessidade de mais diálogo e reconciliação no seio partidário, Chissano recordou os tempos difíceis do diálogo inicial entre o governo e a Frelimo. Deixou claro que teve de abraçar Afonso Dhlakama várias vezes, na perspectiva de que era importante recuperá-lo e não entregá-lo ao inimigo.
“Agora. Entre nós aqui! Parece que nós queremos expulsá-lo (expulsar Samora Júnior). Parece que estamos a dizer vai, vai, sai, sai. Não há nada para reeducá-lo? Ele é nosso. É preciso dialogar, sobretudo quando é a primeira vez (primeiro pecado de Samora Júnior). Eu queria apelar para isto. Não há motivo” – disse Chissano, figura que continua bastante respeitada no partido e com detentor de intervenções que consensualizam o grupo.
“Eu creio que estas coisas que andam a publicar aí (atritos entre Samora Júnior e dirigentes da Frelimo) deve-se apagar tudo. Hoje é Samora Machel (Júnior), mas há muitos que falam em surdina aí. Portanto, temos de nos reconciliar” – apelou.
No fecho da sua intervenção, Joaquim Chissano fez até questão de recordar o pensamento de Samora Moisés Machel quando o assunto fosse abordar questões de comportamento de membros. Disse Chissano que Samora Moisés Machel defendia a ideia de se evitar, de todas as maneiras, entregar o “camarada” ao inimigo.
“Perguntava Samora (Moisés) Machel, expulsarmos para onde? Você quer levar o camarada aqui para o inimigo? Temos de encontrar maneiras de ganhar esse camarada. Ele (Samora Moisés Machel) era contra isso” – disse Chissano, chamando, no fim, a necessidade de não se pensar que ele (Chissano) já tinha dito o que deve acontecer em relação ao caso Samora Júnior, pois “esta é apenas a minha contribuição e pensamento”.
“Não venham falar que Chissano já disse. Não, é para reflectirmos. É preciso o diálogo” – terminou Chissano, agradecendo a Filipe Nyudi pelo espaço concedido.
A intervenção de Joaquim Chissano aconteceu no último dia da reunião. Chissano falou depois de ter ouvido vários posicionamentos contundentes contra Samora Machel Júnior, simplesmente pelo facto de ter reclamado e exigido cumprimento dos estatutos partidários.