Líder alemã faz discurso ferrenho em defesa do projecto europeu e diz que reacção à crise do coronavírus definirá papel do bloco no mundo. Se falhar, afirmou, movimentos autoritários vão tentar capitalizar.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, afirmou nesta quinta-feira (18/06) que a forma como a União Europeia (UE) lidará com os efeitos da actual pandemia de coronavírus definirá o papel do bloco no mundo. Qualquer erro, alertou, será explorado por forças populistas contra o projecto de integração comunitária.
Merkel fez um pronunciamento no Parlamento alemão um dia antes de uma reunião, por videoconferência, dos líderes dos 27 países-membros da UE. Em pauta, estará um pacote de resgate económico europeu, que já divide os integrantes do bloco.
“Não devemos permitir que a pandemia coloque as perspectivas económicas dos Estados-membros da UE à deriva, enfraquecendo o mercado único comum – um elemento central da Europa”, disse Merkel. “Trabalharemos com determinação contra o perigo de uma fenda profunda e permanente na Europa.”
A União Europeia propôs no mês passado um fundo de recuperação de 750 bilhões de euros para ajudar os países a enfrentar a recessão desencadeada pelo coronavírus.
A cifra foi estipulada a partir de uma proposta anterior da Alemanha e da França. Mas Áustria, Dinamarca, Holanda e Suécia – um grupo de países chamado de “Quatro Frugais” – estão relutantes em dar dinheiro sem compromissos. Sua oposição às doações poderia atrasar o projeto.
“Não podemos ser ingênuos: as forças antidemocráticas, os movimentos radicais e autoritários, estão apenas esperando por crises econômicas, para capitalizá-las politicamente”, advertiu Merkel.
Merkel disse esperar que um acordo seja alcançado antes das férias de verão europeias, em Julho, mas deixou claro que a conversa desta sexta será apenas uma primeira troca de ideias. Uma decisão, afirmou, só sairá numa reunião presencial.
“O ponto de partida é qualquer coisa, menos fácil, mas espero que todos os Estados-membros ajam agora com espírito de cooperação diante desta situação sem precedentes”, disse Merkel.
Maior económica da Europa, a Alemanha assume, em 1º de Julho, a Presidência rotativa da UE por seis meses.
O Banco Central Europeu (autoridade monetária da zona do euro) projectou no início deste mês que os efeitos da pandemia levarão a uma retracção de 8,7% na área de moeda única em 2020.
Segundo a presidente do BCE, Christine Lagarde, uma recuperação a partir de 2021 é possível (o banco projecta expansão superior a 5% para o ano que vem), mas dependerá justamente da duração e da eficácia das medidas de contenção e do sucesso das políticas para mitigar o impacto adverso da pandemia sobre a renda e o emprego.
Com a pandemia relativamente controlada e necessitando reactivar a economia, a União Europeia reabriu nesta semana em grande parte as fronteiras internas do bloco, mas contínua fechada a países onde o vírus segue fora de controle, como Brasil e EUA.
Na Europa, ainda prevalece a cautela, após as mais de 180 mil mortes ocorridas em razão da pandemia. O continente registou mais de 2 milhões das quase 8 milhões de infecções em todo o globo, seguindo dados da Universidade Johns Hopkins.
Entretanto, a necessidade de reavivar o sector do turismo é algo urgente para muitos países, como Espanha e Grécia, enquanto se multiplicam os graves efeitos económicos da pandemia. As maiores economias do bloco esperam para este ano a maior recessão do pós-guerra.