Presidência da República foi sempre acusada de entregar dinheiro de origem duvidosa a empresários e associações para branquear a imagem do partido no poder, o MPLA e a do chefe de Estado
Em Angola, analistas afirmam que o “saco azul” “deixou de ter a dimensão que tinha” e os beneficiários já começaram a ressentir-se da ausência dos valores. Agora, querem saber se o Ministério das Finanças continua a financiar “uma vez que já não fazem tal trabalho”.
Ao longo dos anos, a Presidência da República foi sempre acusada de entregar dinheiro de origem duvidosa a empresários e associações para branquear a imagem do partido no poder, o MPLA, e a do chefe de Estado.
Em declarações a DW África, Benedito Jeremias “Dito Dali”, um dos activistas angolanos que lutaram nas ruas de Luanda contra as alegadas más políticas públicas da anterior governação e a destituição do ex-Presidente José Eduardo dos Santos, começou por explicar o significado do “saco azul”.
“É um dinheiro roubado dos cofres públicos, sem justificação, sem transparência e sem dizer o destino do dinheiro. E é esse dinheiro que era usado para os cambalachos (esbanjamento)”.
A história do “saco azul” não é nova. O activista do conhecido caso dos “15+2” também explica o destino que era dado aos valores que supostamente eram extraídos dos cofres do Estado.
“Sempre existiu o saco azul. O dinheiro era gasto desnecessariamente para suportar os bajuladores, para comprar as vozes críticas. Também servia para despejar nas maratonas (eventos de comidas e bebidas) e campanhas a favor de José Eduardo dos Santos”.
O país tem uma nova governação desde Setembro de 2017, mas com o mesmo partido desde 1975, o MPLA.
O jornalista angolano Ilídio Manuel esclarece que os casos de verbas não orçamentadas vindas da Presidência da República tendem a reduzir na era, João Lourenço.
Para Ilídio Manuel, “o saco azul deixou de ter a dimensão que tinha” e que actualmente no país, há menos “visibilidade agora de acções promovidas pela Presidência da República. Anteriormente a presidência da república era quase pau para toda obra e era sempre questionável como é que esse dinheiro era obtido, uma vez que, eram verbas que não estavam orçamentadas”, frisou o jornalista.
Associações e empresários em declínio
Algumas organizações e empresários que dependiam destes valores estão é declínio. Entretanto, suspeita-se que o Clube desportivo Kabuscorp do Palanca, do chamado “empresário da Juventude” Bento dos Santos Kangamba, dirigente do MPLA e genro por afinidade do ex-presidente José Eduardo dos Santos, também esteja a ressentir-se.
Esta semana a Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) ordenou que a equipa fosse relegada ao segundo escalão do futebol angolano. Em causa está a dívida que tinha com o jogador brasileiro Rivaldo pelos anos que actuou no Girabola, campeonato angolano de futebol da primeira divisão.
“É natural que elas (as empresas) recitam-se do (saco azul) como já estão a ressentir da crise económica e financeira que o país vai registando. Portanto, já não temos tantos episódios de despesismo como tínhamos anteriormente. Anteriormente davam-se ao luxo de gerir o dinheiro para determinadas coisas supérfluas. Basta ver, por exemplo, os músicos de renome e o envolvimento dos empresários nas campanhas eleitorais”, sublinha Ilídio Manuel.
Agora, o analista questiona: porque o governo continua a dar verbas às associações e empresas que não prosseguem interesse público?
“Neste momento não se sabe se os movimentos de carácter bajulatório que tinham como objectivo promover a imagem do partido governante e do próprio Presidente da República, se continuam a receber dinheiro do Estado para este fim. Elas deixaram de fazer o trabalho que anteriormente faziam com aquela visibilidade que era conhecida, mas o Ministério das Finanças não é claro neste aspecto”.