Homenagem com homilia e entrega simbólica de entrega de óbitos a órfãos lembram as vítimas do massacre de 1977
Um dia após o Presidente angolano pedir perdão e desculpas pelo massacre de 27 de Maio de 1977, que deixou milhares de mortos devido à repressão do regime do MPLA, familiares das vítimas enaltecem o gesto, mas dizem faltar o reconhecimento total dos mortos.
Em Luanda, uma cerimónia do Governo, com deposição de flores e entrega de alguns certidões de óbitos a órfãos, e uma homilia marcaram o primeiro acto público sobre os incidentes de então com o patrocínio do Estado.
Julião Ernestro, irmão de Eduardo Gomes da Silva “Bakalof”, uma das vítimas citadas pelo Presidente no discurso de ontem enaltece o gesto de João Lourenço.
“É um bom sinal e nós reconhecemos o gesto, para nós é o início da reconciliação”, sublinha em conversa com a VOA.
Urbanito de Castro, filho do músico Urbano de Castro, também citado pelo Presidente, diz que “para nós a família é um bom começo e temos é que agradecer, no entanto, pensamos é que falta é o reconhecimento total das famílias”.
Ele acrescenta que “nestes 44 anos vivemos mal, muitos de nós nem teve como levar o nome do pai porque não tínhamos as cédulas, acredito que agora vai ser possível”.
Homenagens
Entretanto, uma homilia em memória das vítimas do 27 de Maio de 1977, realizada no Cemitério da Santa Ana, em Luanda, marcou a homenagem organizada pelo Governo, a primeira em 44 anos.
Antes, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, que preside a Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação, depositou uma coroa de flores à entrada do cemitério, tendo dito na altura que as pessoas que perderam a vida naquela purga foram “vítimas da nossa incapacidade de aprender e perdoar os outros”.
A segunda homenagem aconteceu no Largo da Independência, onde o ministro fez a entrega simbólica de certidões de óbito a filhos de três vítimas, Inocente Leao, António Armando e Joaquim Manuel.
O processo, segundo o Governo, vai continuar sob o lema “Abraçar e Perdoar”.
O massacre
A 27 de Maio de 1997, uma alegada tentativa de golpe de Estado supostamente liderada pelo antigo ministro do Interior, Nito Alves, expulso do MPLA uma semana antes, foi fortemente reprimida pelas forças de segurança leais ao então Presidente Agostinho Neto, com apoio das tropas cubanas, na altura estacionadas em Angola.
O movimento passou a ser conhecido por “fraccionanismo” e foi completamente dizimado.
Várias fontes estimam que cerca de 30 mil pessoas poderão ter sido mortas.