A família de Patrice Lumumba celebrou hoje como uma “grande vitória” a decisão da justiça belga de lhes devolver um dente que se julga ser do líder que conduziu o Congo à independência da Bélgica em 1960.
“Esta é uma grande vitória não só para a sua família biológica, mas também, e sobretudo, para o Congo, pelo qual lutou toda a sua vida”, disse a filha do falecido, Juliana Amato Lumumba, citada pela agência espanhola Efe.
Patrice Hemery Lumumba, nascido em 02 de julho de 1925, em Onalua, Congo Belga, actualmente República Democrática do Congo, morreu em 17 de janeiro de 1961, na província de Katanga.
Líder nacionalista africano, primeiro primeiro-ministro da República Democrática do Congo (junho–setembro de 1960) foi forçado a abandonar o cargo durante a crise política que levou o coronel Mobutu Sese Seko ao poder.
Foi assassinado pouco tempo depois na presença de líderes locais e de agentes belgas e norte-americanos, tendo o seu corpo sido desmembrado e dissolvido em ácido sulfúrico por ordem de Mobutu Sese Seko.
Um dente terá sido alegadamente extraído por um polícia belga antes do desaparecimento do corpo.
“Sessenta anos após a independência, Patrice Émery Lumumba vai ser enterrado na terra dos seus antepassados”, acrescentou a filha, adiantando que chegou o momento de o país se preparar para o grande funeral do herói da independência congolesa.
“Espero que o governo [congolês] apoie um grande funeral, digno deste herói nacional, porque o 17 de janeiro de cada ano é um grande dia”, acrescentou Juliana Amato Lumumba, cuja família já se prepara para viajar para a Bélgica para recolher o dente.
A 30 de junho, no aniversário de seis décadas da independência do Congo, a filha de Lumumba enviou uma carta ao Rei Filipe dos Belgas pedindo que os restos mortais do seu pai fossem devolvidos à terra dos seus antepassados.
No mesmo dia, o Rei Filipe reconheceu pela primeira vez a “violência e crueldade” no Congo durante o reinado do seu predecessor Leopoldo II (1865-1909), numa carta ao primeiro-ministro da República Democrática do Congo, Felix Tshisekedi.
Uma investigação do Parlamento belga concluiu, em 2001, que o rei Balduíno dos Belgas e o seu governo tinham conhecimento dos planos para assassinar Lumumba, mas não fizeram nada para o evitar.
A justiça belga determinou, na quinta-feira, a devolução à família de Patrice Lumumba do dente, supostamente pertencente ao líder congolês assassinado.
O dente era uma das peças do processo judicial aberto após queixa apresentada em 2011, em Bruxelas, pelos filhos de Patrice Lumumba, exigindo que as circunstâncias da morte do pai fossem esclarecidas.
Eric Van Duyse, porta-voz do Ministério Público Federal da Bélgica, disse trata-se de uma restituição “simbólica”, uma vez que não há “certeza absoluta” de que o dente pertença de facto ao herói da independência congolesa.