Sem transporte próprio para levar as forças nacionais para o estrangeiro, as Forças Armadas pagam fortunas a empresas privadas para levarem equipamento e militares. Para a Roménia , os blindados começaram a viagem de navio
O Exército contratou por mais de um milhão e 200 mil euros transportadoras privadas para levar os militares, blindados e outro material que será utilizado pela força nacional destacada para a Roménia, no âmbito da missão da NATO “Tailored Forward Presence”, que visa “contribuir para a dissuasão e defesa da Aliança”.
A guerra da Ucrânia obrigou as Forças Armadas a antecipar a projeção desta força para o próximo dia 15 – uma companhia de 221 militares – planeada para o final deste ano.
São dois os contratos relacionados com esta força nacional publicados no portal oficial base.gov e indicam que por “ausência de recursos próprios” foram feitos estes ajustes diretos no valor total de 1.267.888 euros.
São dois os contratos relacionados com esta força nacional publicados no portal oficial base.gov e indicam que por “ausência de recursos próprios” foram feitos estes ajustes diretos no valor total de 1.267.888 euros.
O mais avultado foi celebrado com a empresa FLS Freight & Logistics Solutions Lda., no valor de 1 071 888,00 euros, com um prazo de execução de 20 dias e pagamento a 30. Tem por objetivo o “Transporte Marítimo em Navio Dedicado (Complementado com Transporte Rodoviário) para a Projeção de UEC (CAtMec) para a Roménia” e invoca ” motivos de urgência imperiosa resultante de acontecimentos imprevisíveis”.
De acordo com este documento, assinado pelo Brigadeiro-General João Luís de Sousa Pires, a conta será suportada pelas verbas orçamentadas das Forças Nacionais Destacadas (FND).
O outro contrato, também por “ausência de recursos próprios”, foi celebrado com a empresa DSV Air & Sea Portugal Lda., no valor de 196 mil euros visa a “Aquisição do serviço de transporte de passageiros e de mercadorias no âmbito da Tailored Forward Presence – Voo Dedicado (Charter) para Projeção da força para a Roménia” e vai levar os militares, que deverão sair do Figo Maduro em direção a Craiova, no sul da Roménia.
Transporte por navio e terra
O DN questionou o Exército e o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), responsável pelas FND, para saber se não existiam recursos do Estado e das próprias Forças Armadas (navios da Marinha, aeronaves da Força Aérea, veículos do próprio Exército) que pudessem ser utilizados, mas não obteve resposta.
“Havendo a necessidade de transportar viaturas com essas características tornou-se necessário recorrer a uma empresa privada, como acontece com a generalidade dos países da UE que não dispõem desta capacidade de transporte nas suas Forças Armadas”
O ministério da Defesa reconhece, por seu lado, que “as Forças Armadas não dispõem dos meios de projeção estratégica capazes de transportar forças terrestres de tipologia média ou pesada” e que “havendo a necessidade de transportar viaturas com essas características tornou-se necessário recorrer a uma empresa privada, como acontece com a generalidade dos países da UE que não dispõem desta capacidade de transporte nas suas Forças Armadas”.
O Gabinete da Ministra da Defesa Nacional, Helena Carreiras, adianta que este sistema continuará a ser utilizado “quando não seja possível assegurá-lo com meios próprios das Forças Armadas, como é normal nos países da NATO”.
Neste caso, a viagem do material, que começou no passado dia nove, está a ser feita por via marítima e depois sobe por terra até à Roménia. Este contrato foi o mais dispendioso de todos os celebrados com transportadoras, de acordo com o que está publicado no portal base.gov.
A FLS Freight & Logistics Solutions Lda já transportou este ano, também para o Exército, um contentor para Moçambique (11 950 euros) e “mercadorias militares” para a FND na República Centro Africana (77 259, 67 euros).
Por seu lado, a DSV Air & Sea Portugal Lda. ganhou em concurso público, no final do ano passado, um contrato com a Direção de Navios da Marinha, no valor de 433 mil euros, para fornecimento de “serviços de transitário para 2022”, ou seja, de transporte, assinado em dezembro de 2021.
Recorde-se que o único navio que a Marinha tinha que poderia ser utilizado em transportes de carga média e pesada era o Bérrio, o “gigante” reabastecedor logístico que foi mandado abater em janeiro de 2020, sem que outr alternativa estivesse disponível, estando atualmente ainda a ser avaliada a sua possível recuperação.
“Circunstâncias excepcionais”
No ano passado o Exército também contratou esta empresa, por 499 990 euros para “Transporte de passageiros, fardamento e outras mercadorias militares (produtos de defesa), por via aérea (voos charters dedicados a realizar em 14 de janeiro de 2021 e 24 de janeiro de 202, de Lisboa/Aeródromo de Trânsito Nº1 (AT1) para Cabul/Afeganistão (Aeroporto de Hamid Karzai) e regresso”. E também para “Serviço de transporte de mercadorias militares Lisboa/Bangui(RCA)”, por 94 mil euros.
A “Tailored Forward Presence” faz parte das missões da NATO na Europa e tem como objetivo “contribuir para a dissuasão e defesa da Aliança no seu flanco sudeste”. O quartel-general está localizado em Craiova e o compromisso nacional era de disponibilizar 174 militares de infantaria e 17 blindados.
Contudo, tendo em conta a guerra na Ucrânia, houve um reforço para 221 militares – 201 da companhia de atiradores (reforçada com um módulo de defesa antiaérea, um módulo de conjunto de informações e um módulo de apoio) e 20 da equipa de operações especiais.
No seu discurso no Regimento de Infantaria (RI) 14, em Viseu, onde decorreu a cerimónia de outorga do estandarte nacional a esta força, o Chefe de Estado-Maior do Exército, General Nunes da Fonseca realçou o “reduzido tempo” em que foi aprontada esta força.
“A primeira força nacional destacada para a Roménia foi aprontada em circunstâncias excecionais”, disse Nunes da Fonseca, lembrando que a projeção de uma companhia de atiradores mecanizada estava planeada para o final de 2022″, mas o conflito na Ucrânia “implicou a antecipação da projeção desta subunidade”.