O Exército mexicano teve conhecimento do sequestro e desaparecimento dos 43 estudantes de Ayotzinapa em 2014, um acontecimento que chocou o país, afirmou uma comissão governamental que investiga o caso, em um documento revelado nesta terça-feira (18).
“O Exército estava ciente do que estava acontecendo e acredita que os alvos que estavam sendo investigados antes dos fatos tinham informações em tempo real sobre os possíveis destinos dos estudantes desaparecidos”, diz o documento emitido pela Comissão da Verdade (Covaj), que investiga o caso.
Segundo o relatório, a Secretaria de Defesa Nacional (Sedena), à qual pertence o Exército, monitorava membros do grupo armado que cometeu o crime com a cumplicidade de agentes do Estado.
“Antes dos acontecimentos, a Sedena havia identificado e acompanhado diversos alvos prioritários que faziam parte dos grupos criminosos e cujas informações são de interesse para a continuação da investigação”, diz o documento.
Um relatório anterior da Covaj, apresentado em 27 de setembro, indicava que a participação por ação ou omissão de autoridades federais, estaduais e municipais no caso constituía “crime de Estado”.
Os alunos da escola rural de Ayotzinapa desapareceram entre 26 e 27 de setembro de 2014 na cidade de Iguala, no estado de Guerrero (sul), um dos mais violentos do país devido aos confrontos entre cartéis do narcotráfico.
Os jovens chegaram a Iguala para pegar ônibus e viajar até a Cidade do México, onde participariam de uma manifestação, quando foram perseguidos e atacados por assassinos do cartel Guerreros Unidos.
Esta máfia é acusada de ter executado o crime em conluio com a polícia e diante da passividade das autoridades e oficiais das Forças Armadas do México.
– Denúncia dos familiares –
Os familiares dos 43 estudantes de Ayotzinapan alegaram que o governo do presidente Andrés Manuel López Obrador forneceu informações incompletas sobre o caso, especialmente sobre a participação do Exército.
Até o momento há 132 detidos pelo crime, incluindo 14 membros do Exército e o ex-procurador-geral Jesús Murillo Karam, inicialmente responsável pelas investigações.
Entre as razões apresentadas pelas autoridades para o desaparecimento dos estudantes estão o fato de terem sido confundidos com membros de um cartel rival ou de terem sido vítimas de uma “perseguição” por parte do prefeito de Iguala e de Guerreros Unidos.
Também foi sugerido que a presença de drogas, armas ou dinheiro nos ônibus em que viajaram poderia ter levado à sua perseguição e morte.
O governo afirmou que estas hipóteses “não são necessariamente excludentes”.
Até o momento, os restos mortais de apenas três dos estudantes foram encontrados e identificados.