Há vinte anos na luta por pensões de reforma, antigos militares na província angolana de Benguela ameaçam criar um movimento de protesto dentro de três meses, tempo que julgam necessário para a sua inclusão na Caixa Social das Forças Armadas Angolanas (FAA).
Elementos que fazem parte das classes de sub-tenentes, aspirantes e sargentos/soldados, desmobilizados em 2002, ao abrigo dos acordos de paz, estiveram a pedir explicações no Instituto de Reinserção Social de Ex-militares (IRSEM), na semana passada, no término de uma marcha pacífica que os levou a outras instituições.
São ex-militares das extintas forças da UNITA, que dizem estar a viver um drama social devido ao que chamam de exclusão, à semelhança dos colegas dos outros movimentos de libertação nacional, o MPLA e a FNLA.
Eles esperam que os 90 dias estipulados produzam debates e resultados a nível da Assembleia Nacional e pedem solidariedade e bom senso aos generais que estiveram nas matas.
“Estamos esquecidos porque em 20 anos de paz nunca conhecemos benefícios, nada foi cumprido”, salienta Almerindo, acrescentando que “pegamos num carro-de-mão para trabalhar para conseguir pelo menos um quilo de fuba”.
O seu colega Agostinho Mingas afirma que “um antigo combatente apanha no lixo, transporta carga das senhoras, por isso vamos desestabilizar e paralisar o país dentro de três meses”
“A técnica existe, temos indivíduos da engenharia, que sabem que uma lata de leite pode ser transformada em mina”, lembra.
Benguela andará com 12 mil desmobilizados nestas condições.
Muitos falam em promessas que surgem a cada cinco anos.
“Em 2018 fomos chamados, fomos ao Grafanil (base militar) com todos os documentos, disseram que seriam só três meses mas esse tempo virou cinco anos”, refere outro desmobilizado.
Fonte do IRSEM disse à VOA que está em causa um problema nacional, entregue às estruturas centrais.
O Governo angolano refere que assiste ex-militares com 70% dos 25 milhões de kwanzas mensais (52.350 dólares) do Programa Integrado de Combate à Pobreza em todos os municípios, basicamente com animais e meios de produção.
O aviso deste grupo surge um mês após o aumento salarial de seis por cento nas forças de segurança.
Trata-se, na visão do general na reserva Matias Lima Coelho “Nzumbi”, oriundo do antigo braço armado do MPLA, de uma medida insuficiente face ao nível de vida.
“O país paga o que pode, julgo, mas a minha opinião é que mesmo com este aumento … ainda não é suficiente. Em qualquer exército, o soldado entre aos 18 ou 20 anos e sai três anos depois. O nosso tem 50 anos, com mulher e filhos, por isso deviam ter outro tratamento”, salienta o general.
Matias Lima Coelho prestou estas declarações, recentemente, à margem do lançamento do seu livro “O General de Todas as Frentes”.
Por João Marcos