Um ex-responsável da espionagem saudita acusou o príncipe herdeiro da Arábia Saudita de ser “psicopata” e “assassino”, reiterando ainda publicamente que Mohammed bin Salman enviou agentes ao Canadá para matá-lo.
“Estou aqui para soar o alarme sobre um psicopata, um assassino, no Médio Oriente com recursos ilimitados, que representa uma ameaça para seu povo, para os norte-americanos e para o planeta”, disse Saad Aljabri durante o programa 60 Minutos, do canal de televisão norte-americano CBS.
Aljabri foi demitido em 2015 do seu cargo como chefe da contraespionagem do Ministério do Interior da Arábia Saudita.
Próximo do príncipe Mohammed bin Nayef, Aljabri fugiu da Arábia Saudita em 2017, quando este príncipe foi destituído da posição de herdeiro do trono em favor de Mohammed bin Salman.
Aljabri há muito tempo trabalha em colaboração com autoridades norte-americanas em operações secretas de contraterrorismo.
Saad Aljabri apresentou uma queixa em agosto de 2020 nos Estados Unidos, garantindo que Mohammed bin Salman havia enviado ao Canadá, onde vivia no exílio, uma equipa de “mercenários pessoais” em outubro de 2018, logo após o assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, e deteve dois de seus filhos na Arábia Saudita. A equipa foi expulsa na chegada ao Canadá.
O próprio Aljabri é acusado por Riade de ter desviado 11 mil milhões de dólares de fundos para o combate ao terrorismo pelo qual era responsável entre 2001 e 2015. Aljabri está a ser processado por duas empresas públicas sauditas em ações em Massachusetts (EUA) e Toronto (Canadá).
Durante a entrevista ao 60 minutos, Aljabri garantiu ter sido avisado de que poderia sofrer um destino semelhante ao de Jamal Khashoggi, morto no consulado saudita em Istambul, na Turquia, em outubro de 2018.
O saudita disse ao 60 minutos que foi avisado nestes termos: “não fiques perto de nenhuma missão saudita no Canadá. Não vás ao consulado. Não vás à embaixada”.
Quando perguntou o porquê deste aviso, foi-lhe dito: “Desmembram-te, matam-te. Tu estás no topo da lista”.
Autoridades canadianas disseram ao 60 Minutes que estavam “cientes de incidentes com atores estrangeiros que tentaram (…) ameaçar (…) aqueles que viviam no Canadá”, descrevendo as ameaças como “completamente inaceitáveis”.
Aljabri explicou ao 60 minutos que a equipa era formada por integrantes de um grupo designado pelos investigadores como “Esquadrão Tigre”, nome dado à Força de Intervenção Rápida, da qual sete integrantes, segundo Washington, faziam parte do comando que matou Jamal Khashoggi.
De acordo com a denúncia de Aljabri de 2020, o esquadrão é formado por assassinos contratados pelo príncipe herdeiro saudita e especializados em “execuções extrajudiciais, violação e tortura”.