O ex-presidente-executivo da Americanas Miguel Gutierrez foi preso nesta sexta-feira em Madri no âmbito de uma operação da Polícia Federal brasileira que apura a participação de ex-diretores da varejista em uma fraude bilionária.
Quatro fontes da PF haviam antecipado pela manhã à Reuters a prisão de Gutierrez, que foi confirmada no início da tarde pela corporação em comunicado oficial. A prisão foi realizada pela polícia espanhola.
A PF não havia encontrado Gutierrez na quinta-feira para cumprir o mandado de prisão, e ele passou a ser considerado foragido e teve seu nome incluído na lista de procurados da Interpol.
A polícia espanhola informou que sua unidade de combate ao crime organizado prendeu Gutierrez, procurado pelo Brasil através da Interpol, pelo crime de “fraude agravada”, e sua captura ocorreu em uma operação contra a lavagem de dinheiro coordenada pela PF brasileira.
Uma fonte da PF que tem atuação direta no caso disse que agora vai se avaliar um pedido de extradição de Gutierrez ao Brasil. Outra fonte da corporação ressalvou que extradi-lo poderá ser um desafio diante do fato da cidadania espanhola. Segundo a fonte, vai depender de uma análise da legislação da Espanha.
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, confirmou nesta tarde em entrevista à GloboNews que o pedido para extraditá-lo será feito.
“Agora o Poder Judiciário brasileiro, via autoridade central, deve encaminhar a solicitação formal de extradição à Espanha que fará a análise jurídica que eu acho que é o cerne dessa questão”, disse.
Segundo Rodrigues, várias nuances terão de serão observadas no caso, como o fato de o detido ter dupla nacionalidade — brasileira e espanhola — e a gravidade do crime praticado.
A defesa de Gutierrez disse em um comunicado na quinta-feira, após a notícia do mandado de prisão, que seu cliente nunca participou ou teve conhecimento de qualquer fraude durante seu tempo à frente da varejista. A defesa não se manifestou após a detenção do cliente.
O mandado de prisão contra Gutierrez havia sido emitido pela 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro no âmbito da operação Disclosure, que apura a participação de ex-diretores da Americanas na fraude contábil de 25,3 bilhões de reais que levou a empresa à recuperação judicial ano passado.
Gutierrez liderou a empresa por mais de duas décadas até dezembro de 2022.
O juiz que ordenou sua prisão e a busca e apreensão de provas nas casas de 14 ex-executivos da Americanas disse em seu mandado, visto pela Reuters, que a polícia havia fornecido provas convincentes de uso de informação privilegiada e manipulação de mercado.
A ex-diretora da Americanas Anna Christina Ramos Saicali, também alvo de mandado de prisão, segue foragida e a PF já incluiu o nome dela na difusão vermelha da Interpol e busca contatos para encontrá-la.
Os executivos investigados alteraram fraudulentamente os resultados da empresa para aumentar o preço das ações, escreveu o juiz do caso citando a investigação policial, acrescentando que, quando a revelação da suposta fraude se tornou iminente, Gutierrez vendeu 171,7 milhões de reais em ações antes que o preço despencasse.
O rombo na Americanas foi revelado em janeiro de 2023 pela recém-nomeada diretoria da empresa. Na véspera do anúncio, as ações da empresa eram negociadas na casa de 12 reais. Na quinta-feira o papel fechou cotado a 0,40 real.
Posteriormente, a empresa, que tem como acionistas de referência o trio de bilionários fundadores da 3G Capital — Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira — acusou Gutierrez e outros ex-funcionários da empresa de cometerem fraude.
Em comunicado divulgado na quinta-feira, a Americanas disse que “reitera sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforça que foi vítima de uma fraude de resultados pela sua antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes”.
Por Ricardo Brito (Reportagem adicional de David Latona, em Madri, e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro Edição de Pedro Fonseca)