Em entrevista ao JE, Carlos Barroca, vice-presidente de Operações da NBA Ásia, explica como a Liga de basquetebol previu este contratempo e como estas situações devem estar sempre acauteladas nos contratos para que não aconteça o que sucedeu na Europa, por exemplo.
Suspensa desde 11 de Março por causa da pandemia de Covid-19, a NBA tinha previsto, através dos contratos colectivos com os jogadores, a paragem da Liga e a situação referente aos ordenados dos jogadores, tendo em conta uma cláusula que perspectiva que uma razão de força maior (como uma pandemia) pudesse obrigar a NBA a parar.
Os presidentes das 30 franquias da NBA, o principal campeonato de basquetebol norte-americano, querem terminar a época, de acordo com o testemunho de alguns destes responsáveis.
Em entrevista ao JE, Carlos Barroca, vice-presidente de Operações da NBA Ásia, explica como a Liga de basquetebol previu este contratempo e como estas situações devem estar sempre acauteladas nos contratos para que não aconteça o que sucedeu na Europa, por exemplo.
Como é que a NBA geriu esta questão da pandemia?
Estava tudo previsto. É preciso ter visão, capacidade de implementação e alocar recursos. E entre esses recursos é preciso ter gente que, de forma profissional, trate cada uma das áreas. Neste caso, a máquina jurídica tem que tratar da protecção do próprio negócio.
Como é que o negócio estava protegido?
Havia um contrato colectivo com os jogadores, aqueles vínculos contratuais que são negociados de quatro em quatro anos que previa que, por uma razão de força maior (como é caso de uma pandemia e isso já estava escrito expressamente no contrato), os jogadores não iriam receber o seu salário. Por isso, quando tudo isto aconteceu não houve nenhuma discussão sequer porque as regras do jogo são iguais para todos. Nós que trabalhamos na NBA somos todos empregados e até o Adam Silver, que é o actual comissário da NBA, é tão empregado como qualquer um de nós. Tem naturalmente uma posição mais distinta mas no fundo, os donos da Liga são os donos das equipas e é a associação dos jogadores profissionais. Quando estamos todos no mesmo barco, as dificuldades de uns são as dificuldades de todos e quando é assim, é mais fácil resolver estas questões. E estas não têm que ser pensadas depois das dificuldades acontecerem; têm que ser visionadas em todas as suas latitudes para que um problema não seja mais agudizante do que aquilo que já é. Esta situação é naturalmente grave mas felizmente havia uma solução jurídica para que as coisas estivessem devidamente estruturadas.
A verdade é que na Europa, e para o futebol, verificamos várias soluções para o mesmo problema.
Existem duas expressões em português que são únicas: fazer as coisas em cima do joelho e ser apanhado com as calças na mão. Nenhuma destas expressões tem tradução em qualquer outro idioma. Infelizmente, e quando falamos de desporto profissional e no negócio do desporto, poucas pessoas têm a capacidade de perceber que, se isto é um negócio, as bancadas têm que estar cheias e recordo uma regra da Liga de Basquetebol de Espanha em que cada equipa podia contratar três estrangeiros mas um deles tinha que ser base para dar espectáculo. Se isto é um negócio toda a gente faz parte da solução e não parte do problema. O que tem que haver, obviamente, é liderança, visão e regras bem definidas em que as pessoas ou estão dentro ou estão fora. Até podem não concordar mas a partir do momento em que estão lá, aceitam fazer parte da solução. Isto tem que fazer parte do ADN daquilo que é o desporto profissional e para que o modelo de negócio possa sobreviver. Sem bancadas cheias, sem rentabilidade, sem visão, sem estímulo para os intervenientes da modalidade, isto é um desespero todos os dias. Há tantas coisas boas no futebol, até porque somos um país pequenos e temos tantos êxitos por esse mundo fora, que seria bom que, dentro do nosso próprio país, isso fosse não uma fonte de divisão mas sim uma fonte de congregação de tantas boas vontades. Como dizemos na NBA, play together.