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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Estátua polémica reacende debate sobre racismo em Angola

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Já foi removida a estátua de um anjo branco a pisar um homem negro, à entrada de um hotel em Malanje. Activistas que lançaram um abaixo-assinado exigem agora que a peça seja destruída e um pedido de desculpas formal.

A pomémica surgiu na sequência de um vídeo publicado nas redes sociais em que aparece a estátua de um anjo branco a pisar um homem negro, à entrada do Hotel Portugália, em Malanje.

O caso motivou um abaixo-assinado subscrito por figuras como o músico Barceló de Carvalho “Bonga”, Ricardo Vita, colunista de jornais em Portugal, Brasil e França, Kalaf Epalanga, músico e escritor, entre outras personalidades.

Depois da polémica, a estátua foi retirada. Mas os subscritores exigem desculpas públicas por parte do Hotel Portugália em Malanje, como disse à DW África o investigador e ativista Domingos da Cruz, um dos mentores da iniciativa.

“A estátua foi já removida. À semelhança do vídeo que mostrava uma estátua, agora o hotel também fez um vídeo indicando que a estátua já não está no local. Mas há subscritores que entendem que não basta a remoção da estátua, ela deve ser partida publicamente e o hotel poderá fazer um comunicado pedindo desculpas à sociedade angolana pelo crime que eles protagonizaram”, defende.

A DW África tentou contactar o hotel em causa, mas sem sucesso.

Racismo consolidado em Angola?
Este caso volta a trazer a debate a possibilidade de existência ou não de racismo em Angola. Domingos da Cruz é autor do livro de 150 páginas intitulado “Racismo – Machado afiado em Angola” e explica que essa situação não é isolada no país.

“Há estudos que demonstram isso. À semelhança do que fiz no meu livro, há estudiosos ao nível da Europa que têm trabalhos que eu acessei aquando do período em que estava a redigir o meu livro sobre racismo em Angola. Há já um consenso, mais ou menos construído ao nível da academia, sobre a existência consolidada do racismo em Angola”, afirma.

Esta evidência também já foi revelada pelo rapper MCK, no álbum “Proibido Ouvir Isto”, lançado em 2012. No tema “Na Fila do Banco”, o artista fala da predominância de cidadãos de pele clara, nos bancos comerciais angolanos, em detrimento de pessoas de pele negra.

Também na música “Realista”, o rapper Yanick Afroman canta que “há sítios em que negro é barrado, mesmo bem apresentado. Mas o branco pode entrar de chinelo e calções”.

Humilhações e expulsões
O exemplo mais acabado desta suposta realidade é o caso de Simão Hossi, fotógrafo e ativista angolano humilhado e expulso do restaurante “Café Del Mar”, na Ilha de Luanda, em 2018. O assunto terá sido o mais mediático e o mais debatido sobre este fenómeno em Angola. Na altura, o estabelecimento alegou que Hossi estava “mal apresentado”.

Quase três anos depois, o tema volta a ser debatido na sociedade angolana. Luís Paulo, ativista angolano, diz que o fenómeno regista-se até nas multinacionais. “A própria seleção dos trabalhadores é feita à base do racismo. Mas isso não se levanta no nosso país porque nós achamos ser muito relevante debatermos o assunto de racismo”, refere.

Por causa das críticas e denúncias sobre atos racistas, já há empresas que registam proporcionalidade na seleção dos funcionários, diz Luís Paulo. “Mas, em muitas empresas, ou tem mais negros para serem explorados, ou tem mais negros para dar a entender que são empresas tolerantes ou não racistas”, conclui.

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