Lusa | Sapo24
O líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, acusou hoje o primeiro-ministro de falar de um “país virtual”, “para a fotografia”, “pintado de cor-de-rosa”, em que o Governo “fez tudo bem”, mas que é desmentido diariamente pela realidade.
“O que aqui ouvimos do senhor primeiro-ministro, hoje e sempre, foram consistentes tentativas de vergar a realidade à narrativa fantasiosa de que o seu Governo fez tudo o que estava ao seu alcance e que fez tudo bem”, criticou Negrão, na intervenção de fundo do PSD no debate do estado da nação, o último da atual legislatura.
No entanto, para o líder parlamentar social-democrata, “esta narrativa de encantar é desmentida pela realidade todos os dias”, reiterando a acusação de governar em “permanente modo de ‘reality show’”.
Negrão apontou falhas na governação nas áreas da saúde, segurança social, educação, justiça, segurança, proteção civil ou nos apoios ao interior – que diz ter sido esquecido “porque não dá votos que cheguem para vencer eleições”.
“Mas para o Governo está tudo bem”, ironizou.
O líder parlamentar incluiu no rol das falhas do executivo o roubo das armas de Tancos, considerando que se trata de uma “mancha indelével deste Governo”.
“Hoje quando o primeiro-ministro diz que mantém a confiança no ex-ministro da Defesa, ninguém sabe ao certo se essa confiança se refere ao que Azeredo Lopes disse ou ao que o Azeredo Lopes não vai dizer”, apontou.
Negrão trouxe ainda ao debate o chamado ‘familygate’, dizendo que faz deste Governo “além de uma espécie grande albergue familiar, um caso de estudo mundial pelas piores razões”.
“A tal ponto que levou a embaraçar o próprio senhor Presidente da República numa reunião do Conselho da Europa há cerca de um mês”, afirmou, sem especificar a que situação se referia.
O líder parlamentar do PSD considerou que “nenhum dos grandes objetivos proclamados pelo Governo foram alcançados”, e até a recuperação de rendimento foi “engolida por impostos, taxas e tachinhas”.
“Para dar a alguns, o Governo tirou a todos. Para satisfazer a exigência de alguns, o Governo falhou com todos”, acusou.
Apontando o exemplo da Lei de Bases da Saúde – para a qual ainda não há acordo -, Negrão acusou o Governo de não ter levado a cabo “uma reforma digna desse nome” e de ter governado durante quatro anos “por um impulso de sobrevivência para evitar um naufrágio das suas forças políticas”.
“Pela sobrevivência da geringonça, tudo foi suportável. Agora, falam da criatura como se não tivessem sido responsáveis pela sua criação”, criticou.
No final da sua intervenção, Negrão apresentou algumas das propostas alternativas do PSD já conhecidas do seu programa eleitoral, como a redução do IRC, das taxas de IRS e do IVA de bens essenciais.
“Continuaremos a bater-nos, igualmente, por mais transparência na vida pública e pela ética na ação política. O combate à corrupção é, para nós, um desígnio nacional”, afirmou.
Numa intervenção aplaudida de pé pela sua bancada, apelou ao voto dos portugueses nas legislativas de 06 de outubro, pedindo para que o PSD que, começou legislatura como partido mais votado, também inicie dessa forma a próxima legislatura.
“O PSD não tratará os portugueses como contribuintes inesgotáveis ou eleitores resignados, mas como ‘cidadãos livres’”, afirmou, dizendo parafrasear o discurso de António Barreto como comissário das comemorações do 10 de Junho de 2010.
Esta intervenção motivou um pedido de esclarecimento do vice-presidente da bancada do PS Fernando Rocha Andrade, que, em tom irónico, saudou o PSD por “ajuda ao suspense”, por umas vezes criticar o aumento da despesa corrente do Estado e outras os “supostos cortes” nessa mesma despesa.
“Hoje apareceu este segundo PSD, que inventa que cativações são iguais a cortes”, criticou.
No entanto, Rocha Andrade salientou que no quadro macroeconómico já apresentado pelos sociais-democratas para enquadrar o seu programa eleitoral se prevê um crescimento de 2% nos consumos intermédios do Estado na próxima legislatura, em vez dos 14% previstos no Programa de Estabilidade.
“Como defende o PSD ao mesmo tempo que falta despesa e uma restrição no aumento da despesa?”, questionou.
O deputado socialista negou que o atual executivo tenha governado para “clientelas”, como sugeriu Negrão, dizendo que governou para os trabalhadores que estavam desempregados ou para os pensionistas que viram as reformas cortadas, entre outros.
“Se trata todos estes portugueses como clientelas, efetivamente não sobra muita gente para votar no PSD”, ironizou.
Na réplica, Negrão reafirmou a convicção de que o PSD “ganhará as eleições” e acusou o PS de “gozar de excesso de confiança”.