Janísio C. Salomão[1]
Angola está a viver indubitavelmente momentos ímpares na sua história. Uma Angola confrontada com a fantasmagoria e insofismável. Já não podemos tapar o sol com a peneira, é impossível. Vivemos a dizer que Angola foi um dos países que mais cresceu no mundo com taxas de até dois dígitos, quando a maioria dos países mais desenvolvidos crescia com apenas um dígito; Apregoamos que a crise internacional não nos iria afetar, porque eramos uma “economia robusta”. Até o ar que respiramos nos foi dito que “era reflexo da paz”. Uma Angola que nos foi pintada com tinta delével e com passar os anos, demos conta que este quadro começou a debotar e a imagem tornou – se fusca e aos poucos desvaneceu.
Nos pintaram uma Angola aonde os dólares circulavam a nduta*, chegando a tornar – se a principal moeda de circulação em detrimento do kwanza. Viajar é viajar, só queríamos primeira classe, classe executiva, a quem dava-se o luxo de fazer compra nas maiores lojas e shoppings, qual cartão qual quê? O que batia mesmo era pagar em cash e ainda com cabeça grande.
Os papoites** como eram apelidados cá na banda gostavam mesmo de exibir, grandes e luxos carros, altas mansões e castelos construídos em alicerces de areia, riquezas fictícias, a custa do sacrifício do erário público.
Dubai tornou – se um quarto de Angola e a Tuga*** nossa sala, era apenas dar uma curva e lá estavam os mwangolés**** a gastar, torrar pipas e pipas de massa. Quantos contentores e contentores não vinham do Dubai? Navios e navios lotados de mercadorias e carros dos mwangolés? A quem dava-se ao luxo de possuir contentores de dólares e kwanzas em casa.
De um dia para outro apercebemo-nos que, esta imagem que criamos não passou de uma mera uma ilusão, ilusão criada através dos média e discursos de que tudo estava bem, quando bem lá no fundo, sabíamos que as coisas não estavam bem. A panela de pressão de tanto tempo fechada acabou por explodir. A manta de tão curta que ficou, já não consegue cobrir o corpo todo, ou escolhemos os pés ou a cabeça. As mentiras tornaram-se em realidades, e o oculto foi revelado.
Eh! Esta é a verdadeira Angola, tudo o resto não passou de uma mera utopia. Temos muita coisa para corrigir, ou corrigimos agora e consentimos os sacríficos ou pagamos mais tarde esta moeda, comprometendo as gerações vindouras. O curioso mesmo é que temos tudo para deixarmos de ser um País ilusório, temos pessoas capazes, fantásticas e inteligentes, temos rios abundantes, terras aráveis e um potencial de recursos inigualáveis, temos apenas que deixar a banga de lado e por a mão na massa. Deixar de pensar apenas na minha barriga e pensar também na barriga e no sofrimento e dor do meu próximo. Darmos a mãos e juntos construirmos uma Angola melhor, cada um no seu lugar de trabalho, deve dar o melhor de si, colocar o seu tijolo nesta obra que se chama “Angola”. Já perdemos muito tempo a guerrear entre nós, somos mais fortes juntos do que separados, devemos ultrapassar esta nuvem carregada e tenebrosa de celeuma que nos circunda.
Angola não é, e já não será mais a mesma. Engane – se quem pensa ao contrário, estamos conscientes que a caminhada é longa e árduo trabalho temos pela frente.
___________
Glossário:
* por excesso;
**pessoas endinheiradas;
***Portugal
****Angolanos
[1] Docente Universitário, consultor de empresas e Opinion maker.