Alguns ambientalistas estão preocupados com o impacto dos insecticidas usados na campanha de combate às pragas no Cuando Cubango, Angola. Gafanhotos estão a devastar as produções agrícolas em vários municípios desde 2020.
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação (FAO) disponibilizou este ano centenas de litros de insecticidas para serem pulverizados no âmbito da campanha de combate às pragas de gafanhotos no Cuando Cubango, no sul de Angola.
Desde Março, pelo menos quatro milhões de hectares já foram pulverizados com este tipo de químicos e alguns especialistas na província estão preocupados com os riscos para a saúde humana e animal decorrentes do uso daquele tipo de produtos.
“Os insecticidas que estão a ser usados são agro-tóxicos e têm uma capacidade de dispersão muito alta. No combate das pragas, deve ter-se em conta sempre o momento que nos encontramos, a temperatura em si, o vento, por exemplo, e a capacidade da ventilação, porque isto pode ainda provocar danos nos pulmões ou até lesões hepáticas nos seres humanos”, defende o biólogo Jerby Frederico.
Estudo necessário
O ambientalista Manuel Kamuenho Alberto, professor da Universidade Cuito Cuanavale, diz que é necessário tomar medidas que não prejudiquem o ser humano nem a natureza.
“É bom que se usem aqueles insecticidas que não firam a sensibilidade do solo”, avisa.
“É necessário que se faça um estudo de avaliação de impacto ambiental. São feitos poucos estudos de impacto ambiental no país de forma geral, mais é necessário que se acautelem as possíveis consequências e possíveis danos que tudo isto pode provocar no meio ambiente”, adverte.
As autoridades locais garantem que foram tomadas todas as medidas para não se prejudicar a biodiversidade e o ser humano no combate às pragas biológicas.
Januário José Cassanga, chefe do departamento de vigilância epidemiológica do Gabinete da Agricultura e Pescas do Cuando Cubango, garante que as doses usadas não são nocivas.
“Antes de se aprovar a pulverização, houve um critério nacional. Antes de aplicarmos um insecticida, devemos estudar primeiro a capacidade do animal, todos aqueles critérios das características do animal e só assim se determina a dosagem. A [tutela da pasta da] Agricultura aplicou uma dose que não vai afectar animais que sejam benéficos ao homem”, frisou.
Várias regiões afectadas
Em meados de maio, o ministro da Agricultura e Pescas de Angola, António de Assis, admitiu que a praga de gafanhotos vermelhos, que afecta o sul do território, teve início em 2020, na província do Cuando Cubango, e se alastrou a mais quatro regiões do país.
O governante disse que os insectos provenientes de países da África Austral, nomeadamente das vizinhas Repúblicas da Namíbia e Zâmbia, estenderam-se, este ano, desde Março para o Cunene, e em Abril para Benguela e Namibe, estando actualmente na Huíla.
Dados disponibilizados pelo Governo indicam que, só no Cuando Cubango, um total de 1.280 famílias, o equivalente a 6.400 pessoas, foram afectadas por pragas de gafanhotos.