Os eleitores no Equador começaram a votar ontem de manhã num clima de extrema tensão e na sequência de um escândalo de corrupção que levou o Presidente conservador cessante, Guillermo Lasso, a dissolver a Assembleia Nacional, arriscando o próprio mandato.
A campanha eleitoral foi marcada por uma violência crescente ligada ao narcotráfico em plena expansão.
Doze dias antes destas eleições antecipadas, o candidato centrista Fernando Villavicencio, ex-jornalista de 59 anos, em segundo lugar nas sondagens, foi assassinado alegadamente por um comando de homens colombianos ligados a um cartel de droga mexicano.
Pouco antes do seu assassinato, Villavicencio declarou ter sido ameaçado por um chefe de gangue preso cujo grupo, “Los Choneros”, estaria ligado ao cartel mexicano de Sinaloa.
Uma semana depois de Villavicencio, era assassinado outro político, da província costeira de Esmeraldas. A campanha mostrou a dimensão da violência dos cartéis da droga e da insegurança em que o vive o país, com ataques em locais públicos e massacres em prisões.
Os actuais candidatos à presidência deslocam-se com coletes à prova de bala e sob escolta armada. Entre eles, encontra-se uma advogada socialista, um jornalista designado no último momento para substituir Fernando Villavicencio, o candidato assassinado, e um antigo membro da Legião Estrangeira Francesa.
Segundo as sondagens actuais, nenhum dos oito pretendentes está em posição de alcançar uma maioria absoluta e evitar uma segunda volta a 15 de outubro.
O jornalista e candidato Christian Zurita, substituto de Villacencio, participou em várias investigações que revelaram escândalos de corrupção, nomeadamente uma que resultou na condenação do ex-Presidente socialista Rafael Correa a oito anos de prisão.
Apesar de ter denunciado “ameaças de morte” enviadas através de redes sociais, o candidato Zurita prometeu, em caso de vitória, aplicar o programa anticorrupção do amigo e colega assassinado. “As ameaças à minha vida e à minha equipa não nos vão parar”, escreveu Zurita no X (ex-Twitter).
Nos últimos anos, o tráfico de drogas provenientes da Colômbia e do Peru, e dos cartéis mexicanos alastrou-se ao Equador, país vizinho.
O epicentro da violência, contida inicialmente na cidade costeira e estratégica de Guayaquil, expandiu-se rencentemente à capital, Quito. A nível nacional, a taxa de homicídios duplicou em 2022. Desde 2021, mais de 430 detidos prisioneiros morreram em massacres entre gangues rivais.
A esta violência junta-se uma crise institucional que privou o país de Congresso nos últimos três meses, depois da decisão do impopular Presidente cessante de convocar eleições antecipadas para evitar uma acusação por corrupção.
O Equador declarou o estado de emergência há mais de uma semana e forças policiais e militares estão mobilizadas para assegurar a votação de domingo. Os primeiros resultados devem ser publicados durante a noite.
Os eleitores pronunciam-se também este domingo, por referendo, sobre a continuação da exploração petrolífera na selva amazónica de Yasuni, no Nordeste do país, uma terra autóctone e reserva única de biodiversidade. Uma consulta “histórica”, aos olhos dos defensores do meio ambiente e da causa indígena.