Palavras no Bazar Diplomático mereceram a reprovação de algumas pessoas, mas o chefe de Estado quis esclarecer a sua posição.
O Presidente da República foi muito criticado por vários populares que se juntaram no Palácio de Belém para uma manifestação pró-Palestina, poucos dias depois das polémicas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o conflito.
Enquanto ia caminhando, o chefe de Estado ouviu gritos como “Marcelo aprende a história da Palestina, há 75 anos começou esta chacina”. Pouco depois foi abordado por uma mulher que estava no local, que disse ao Presidente da República que as palavras ditas ao chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal foi “uma vergonha”. “O senhor, sendo um diplomata, aquilo foi uma falta de diplomacia”, disse a popular.
O chefe de Estado defendeu-se, dizendo que a posição portuguesa mantém-se, sublinhando a necessidade de defender o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, e também a posição naquela organização.
“A posição portuguesa é contra o terrorismo, mas a favor de um Estado palestiniano”, reiterou.
Mesmo assim a mulher disse ao Presidente da República que “envergonhou” parte da população. “Esteve muito mal, senhor Presidente”, disse a popular, dizendo-se contra a ocupação de Israel.
Minutos depois um outro popular interpelou Marcelo Rebelo de Sousa. Num momento um pouco mais tenso, o homem disse ao Presidente da República que “fala demais”.
“O senhor já foi comentador, já não é. É o Presidente de todos os portugueses”, referiu, com Marcelo Rebelo de Sousa a sublinhar que fez uma distinção entre todos os palestinianos e o Hamas.
Num tom mais exaltado, e com o Presidente da República a pedir “deixe-me falar”, Marcelo Rebelo de Sousa concluiu, dizendo que “Portugal condenou o ato terrorista, mas é a favor da Palestina”.
Aos jornalistas, e já com os ânimos mais calmos, o chefe de Estado confessou que achou a posição do chefe da missão diplomática da Palestina “muito moderada e dialogante”.
Posição portuguesa “é a mesma”
Marcelo Rebelo de Sousa defendeu que basta existir um atentado contra civis para que Israel vá contra o direito humanitário. “Não é preciso ser genocídio, basta ser um atentado contra vítimas inocentes, civis, de qualquer das partes. Isso vai contra o direito humanitário”, afirmou.
O Presidente da República realçou que “ainda não tinha havido qualquer resposta ao ataque e já dizia que tem de se respeitar o direito humanitário”.
“Até dizia mais: uma democracia tem de atuar no quadro da democracia, mesmo em tempos de guerra”, assinalou, após ter sido criticado por diversos manifestantes por ter dito, na sexta-feira, ao chefe da missão diplomática da Palestina em Portugal que alguns palestinianos “não deviam ter começado” esta guerra com Israel, aconselhando-os a serem moderados e pacíficos.
Marcelo Rebelo de Sousa reiterou ainda que “a posição portuguesa é a mesma e será a mesma”.
“Estamos e estaremos firmes, atrás do engenheiro Guterres e da posição que tem tomado, que é a posição das Nações Unidas, que votámos ainda agora na última resolução – em que houve 120 a favor, 47 abstenções e 14 votos contra apenas – em que muitos países da EU, mas Portugal sempre esteve ao lado da posição, que é: há direito a haver um Estado palestiniano”, sublinhou.
As declarações de Marcelo Rebelo de Sousa surgiram entre os apelos a um cessar-fogo no conflito na Faixa de Gaza por cerca de 200 pessoas, que se concentraram junto ao Palácio de Belém.
Por António Guimarães