A transmissão do legado literário entre as gerações, por meio da troca de ideias, foi destacada como salutar, em Luanda, pelo escritor António Fonseca, por se traduzir num encontro de memórias em torno do dinamismo criado na massificação do brigadismo pelo país.
Durante um encontro entre escritores da nova e antiga geração, realizado na Mediateca 28 de Agosto, em Luanda, no âmbito do projecto “Encontro Intergeracional”, promovido pela direcção executiva da Brigada Jovem de Literatura de Angola (BJLA), o escritor António Fonseca explicou que nos finais da década de 1970 e princípios dos anos 1980 registou-se um grande dinamismo em torno da literatura no país. Embora o movimento se tenha popularizado e se tornado mais conhecido como “Brigadismo”, na época existiram outros movimentos, que co-participavam e promoviam grandes debates.
António Fonseca referiu que o movimento surgiu somente com a denominação de Brigada Jovem de Literatura, com um grupo de jovens que pretendiam ver o livro a ocupar um lugar importante no processo de desenvolvimento social, conotações de carácter político-social.
Sem pretensões de tornar o projecto extensivo a nível nacional, António Fonseca disse que ele acabou por se replicar, com os movimentos a surgiram na Huila, no Hu-ambo, com a denominação de “Alda Lara”, no Uíge, e gradualmente em todo país. No estrangeiro, surgiu em Cuba e antiga União Soviética. Curiosamento, surgiu no Ministério da Segurança do Estado a brigada “Comandante Dangereux”.
Segundo António Fonseca, a denominação Brigada Jovem de Literatura de Luanda (BJLA) foi atribuída pelo escritor Luandino Vieira, numa referência a uma gazeta publicada pela União dos Escritores Angolanos (UEA), que pretendia distingui-la das demais da época, no tratamento de determinadas matérias. “Eram brigadas independentes que acima de tudo procuravam manter uma filosofia de cooperação permanente com reuniões entre as distintas instituições”.
De acordo com o texto da proclamação, o escritor disse que a brigada foi instituída a 5 de Julho de 1980, tendo começado as actividades um ano antes nas instalações da Escola “Makarenco”, sem estar filiada na UEA.
Por sua vez, o escritor Luís Kanjimbo defendeu a “fidelidade na narrativa histórica dos acontecimentos, para ajudar a juventude a compreender o passado, explicar o presente e apresentar o futuro.” Para os escritor, se não for bem transmitido o legado corre-se o risco de se continuar a cometer erros na passagem de testemunhos sobre o processo do surgimento dos vários movimentos literários na década de 1980.
Já o escritor Conceição Cristóvão, numa incursão histórica ao surgimento da Brigada Jovem de Literatura do Huambo, da qual foi um dos precursores, manifestou a importância dos debates, tertúlias e oficinas literárias e muita leitura como se fazia no passado.
Esse exercício, explicou, agregando humildade, leitura constante e permanente sobre as mais variadas narrativas, sobretudo, dos mais consagrados no campo das letras na país, pode ser de extrema importância, o que vai permitir o surgimento na classe de escritores ensaístas e críticos literários.
José Luís Mendonça defendeu as distinções dos prémios em várias modalidades ou géneros com se fazia antigamente com o Concurso Ca-marada Presidente, que distinguia as categorias “Caminho das Estrelas”, para prosa e narrativa, e “Man Nguxi” para os géneros literatura e infanto-juvenil, e os prémios “Sagrada Esperança”.
Embora nunca tenha feito parte da BJL na altura, a sua entrada na UEA, em 1984, aconteceu quando regres-sou de Cuba, por decisão do escritor Luandino Vieira, três anos depois de ter participado no concurso.