As empresas da segunda ex-mulher de Jair Bolsonaro acumulam dívidas de R$ 325,5 mil com a União
Três CNPJs ligados a Ana Cristina Valle estão inscritos na dívida ativa por tributos que não foram pagos
As empresas estão na investigação de suposta “rachadinha” no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro
As empresas da segunda ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Ana Cristina Valle, acumulam dívidas de R$ 325,5 mil com a União. Elas são citadas em relatórios de inteligência financeira na investigação do Ministério Público do Rio sobre suposta “rachadinha” (desvio de salários) no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).
Segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, três CNPJs ligados à ex-mulher de Bolsonaro estão inscritos na dívida ativa por tributos que não foram pagos. São débitos previdenciários ou de Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Também há multas trabalhistas e outras pendências tributárias.
Os documentos mostraram movimentações “atípicas” em suas contas. Em uma delas, Valle Ana Consultoria e Serviços de Seguros, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) constatou saques fragmentados que ultrapassaram R$ 1 milhão. Na Receita Federal, a Valle Ana consta como inapta desde outubro de 2018. É a empresa que concentra a maior parte das dívidas registradas (R$ 241,6 mil).
Os promotores obtiveram na Justiça, em maio deste ano, a quebra de sigilo bancário e fiscal dos investigados. A medida atingiu as empresas de Ana. No pedido enviado ao juiz Marcello Rubioli, eles citaram o relatório do Coaf que apontou possíveis atos suspeitos.
No caso da Valle Ana Consultoria e Serviços de Seguros, os promotores citaram à Justiça que os saques se deram de modo fragmentado, parecido com a tendência que também era observada na investigação que mira o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ). Foram 1.185 retiradas no CNPJ de Ana Cristina entre 2008, ano em que ela saiu do gabinete, e 2014. Uma média de pouco menos de R$ 1 mil por vez. Flávio já foi denunciado, com outros réus, por peculato, lavagem de dinheiro, organização criminosa e apropriação indébita.
Em outro ponto, a Promotoria destaca que as movimentações financeiras nas empresas podem “reforçar a hipótese de que (os CNPJs) possam ter sido utilizadas para ocultação do desvio de recursos públicos oriundos do esquema de ‘rachadinha'”. Outras três empresas são citadas, mas de modo mais genérico.
Os relatórios do Coaf apontam depósitos vultosos feitos por Ana Cristina na própria conta. Em março de 2011, ela depositou R$ 191,1 mil; quatro meses depois, mais R$ 341,1 mil.
O MP também investiga a atuação de Ana Cristina no mercado imobiliário enquanto esteve casada com Bolsonaro, com uso de dinheiro vivo e o pagamento de valores supostamente subfaturados. O MP cita essas ações no pedido de quebra de sigilo, junto com novos indícios descobertos por meio dos relatórios do Coaf.
Procurada pelo jornal O Estado de S. Paulo, a defesa de Ana Cristina Valle afirmou que não iria se manifestar.