Em nota, as rádios e televisões comunitárias da zona norte condenam “ato brutal” e cobram das autoridades explicações sobre a invasão da coirmã. Num gesto de solidariedade, emissoras paralisam actividades por 24 horas.
Cerca de 10 rádios comunitárias e dois canais de televisão decidiram suspender as actividades por 24 horas esta segunda-feira (03.08) num protesto em solidariedade à Rádio Capital. A emissora teve o equipamento e as instalações destruídas no sábado (24.07), após ser invadida por homens fortemente armados, que estariam com o uniforme da polícia da Guiné-Bissau.
Em comunicado, os órgãos de comunicação social da zona norte da Guiné-Bissau insurgiram-se contra o que chamam de “ato brutal para silenciar a comunicação social” e saem em defesa da “liberdade de imprensa e do Estado de direito democrático”.
A Rádio Capital, por sua vez, informou neste domingo (02.08) que uma semana depois do ataque não viu progresso na condução da investigação por parte das autoridades competentes. O bastonário da Ordem dos Jornalistas Guineenses (OJG), António Nhaga, exige a celeridade na investigação.
“Como jornalista, [o ministro da Justiça Fernando Mendonça] deve utilizar a Polícia Judiciária para encontrar uma resposta pelo menos em duas semanas. Deve contribuir para a investigação. O que a OJG pede é que seja rápida esta investigação. Não queremos discursos bonitos, mas sim coisas concretas”, exige Nhaga.
Com o silenciamento de uma das rádios mais ouvidas de Bissau e que tem criticado a actuação do actual regime de Umaro Sissoco Embaló, o bastonário acha que há “uma narrativa que está a ser construída contra o jornalismo guineense, que é fazer o jornalista ter medo de ter acesso à fonte de informação”.
Para Nhaga, o que aconteceu com a Rádio Capital é uma tentativa de silenciar a imprensa de forma “muito soft”.
Ainda na semana passada, o Governo guineense “repudiou” o ataque à emissora.
Sem previsão de volta
Uma semana depois do ataque, a direcção da Rádio Capital fez saber que não há sinais que levem à descoberta da verdade sobre quem está por trás do ataque.
Nos últimos sete dias, a Polícia Judiciária ouviu os responsáveis da emissora da capital guineense e a direcção da Empresa de Electricidade e Águas do país. A empresa pública teria substituído um controlador de corrente eléctrica, o que alegadamente teria provocado o corte de luz nas instalações da emissora horas antes do ataque.
“Baseado nas explicações do responsável de segurança que se encontrava na rádio no momento do ataque, [sabemos que] quem veio à rádio foram homens com armas automáticas – que só o Estado tem o direito de possuir – e uniformes policiais. Quando temos essas descrições, só podemos acreditar que é um ato com alguma ligação com pessoas do Estado”, diz Sabino Santos, um dos responsáveis pela emissora.
O ataque motivou reacções de toda a sociedade civil guineense e de vários partidos políticos. Em nota divulgada à imprensa do país, a direcção da Rádio Capital informa que ainda não sabe quando vai retomar actividades.