O vírus do Ébola, que provoca a mais letal das febres hemorrágicas conhecidas, voltou a aparecer na África Ocidental, depois de entre 2013 e 2014 ali ter gerado a mais grave epidemia desta infecção desde que o primeiro surto entre humanos teve lugar, em 1976, na República Democrática do Congo (RDC).
Desta vez, a Guiné-Conacri surge no epicentro deste inquietante foco de Ébola já com sete casos registados e quatro mortes confirmadas, três das quais sem dúvidas de que se tratam de vítimas desta febre hemorrágica e uma delas em investigação, como fizeram saber as autoridades locais que já contam com o apoio de técnicos da Organização Mundial de Saúde.
Em 2013, aquela que foi a mais grave epidemia de sempre, surgiu na Serra Leoa e avançou para os vizinhos Libéria e Guiné Conacri, fazendo, nos cerca de dois anos que levou a ser extinta, mais de 11 mil mortos e dezenas de milhar de vítimas, provocando igualmente uma devastação na economia destes países e o colapso em muitas comunidades que jamais se reorganizaram enquanto tal.
Agora, com esse passado ainda bem fresco na memória, as autoridades de saúde guineenses já admitiram estar com grande preocupação por causa da possibilidade de se repetir esse cenário trágico.
E a OMS está igualmente preocupada porque foi acusada em 2013 de ter reagido demasiado tarde para controlar a infecção no início e assim evitar a sua progressão geográfica e em número de vítimas, que, depois, permitiu que o vírus fosse transportado para os países europeus e os EUA que tinham técnicos a trabalhar no terreno para combater a doença.
Nessa epidemia foi, pela primeira vez, usada uma vacina experimental que revelou bons resultados no controlo da infecção, tendo, depois, sido de novo usada no leste da RDC, na epidemia que foi declarada em Agosto de 2018 e foi confirmada como extinta em 2020, com um rasto de 2.200 mortos e milhares de vítimas.
Esta infecção tem uma taxa de letalidade que pode ir dos 50 aos 70 por cento e a sua transmissibilidade é feita a partir de fluídos corporais, o que, nas culturas africanas onde tocar os corpos dos entes queridos falecidos é importante, pode ser um facto de resistência ao seu combate pelas equipas internacionais no terreno, muitas vezes acusadas por obscurantistas (feiticeiros e lideres locais retrógrados…) de estarem a destruir os rituais ancestrais e a disseminar a doença.
Com sete casos confirmados, o Governo de Conacri declarou formalmente a existência de um surto epidémico e o ministro da Saúde, Remy Lamah, confirmou a existência de quatro mortos embora uma das vítimas tenha, posteriormente, sido colocada na condição de em investigação.
Face a este cenário, a OMS já fez saber que está já a colocar equipamento de apoio a caminho da região e as equipas avançadas já estão a estudar este início do surto epidémico.
Recorde-se que, entretanto, no leste da RDC, na província do Kivu Norte, já este mês, foi detectado um novo caso de Ébola, com uma morte confirmada, mas ainda em investigação sobre a possibilidade de se tratar de uma sequela antiga, gerando, todavia, receios de se estar perante um novo surto, depois de a mais recente epidemia ter sido extinta apenas em Novembro do ano passado.
Isto, depois de no Equador, província no oeste da RDC, onde em 1976 ocorreu a primeira transmissão dos animais selvagens, macacos, para a comunidade humana, ter ocorrido, entre Junho e Agosto de 2020, uma epidemia que fez dezenas de mortes e mais de 100 casos.
Com os países africanos, todos, a combater a pandemia da Covid-19, a deslocação de meios, humanos e técnicos, para combater outras enfermidades epidémicas tem-se tornado num obstáculo extra, como já ficou claro no combate aos casos de Ébola na RDC durante 2020.