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Sábado, Novembro 23, 2024

Dólar já vale mais do que o euro em Angola

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Só em 2021, um terço das importações de mercadorias veio de países da zona euro. O facto de as compras àqueles países ficarem agora mais baratas pode comprometer, mais uma vez, o processo de diversificação económica que, mal ou bem, tem estado a decorrer no país. Por outro lado, pode abrandar a inflação.

Pela terceira vez desde o início da reforma cambial iniciada em 2018, a moeda norte-americana valia esta quinta-feira mais do que a moeda europeia em Angola, uma tendência que acompanha os mercados lá fora e que é positiva para Angola, já que a maior parte das receitas de exportação são em dólares, o que permite baixar os preços de importação de mercadorias com origem na Europa.

A primeira vez que o dólar superou o euro em Angola foi a 14 de Julho deste ano, quando a taxa média de câmbio da moeda norte-americana era de 432,6 Kz por cada dólar, e de 431,6 Kz por cada euro. Uma diferença inédita de 1 Kz. Daí, o euro voltou a superar o dólar, até que no início desta semana, segunda-feira, dois dias antes das eleições gerais, a moeda norte-americana voltou a bater o euro, ainda que por apenas um dia. No entanto, esta quinta-feira voltou a superar a moeda europeia.

São os efeitos dos mercados lá fora, com um acentuado fortalecimento do dólar nos últimos tempos sustentado na política monetária da Reserva Federal que, ao contrário do Banco Central Europeu (BCE), se mostrou empenhado em avançar com uma política agressiva de aumento dos juros para combater a inflação. Desta forma, as taxas de juro em alta nos Estados Unidos atraem mais investidores, o que faz com que a moeda se valorize.

E se já não bastava este receio em aumentar as taxas de juro para não provocar uma crise de dívida soberana dos países mais endividados na zona euro, há que juntar ainda a guerra na Ucrânia e a dependência da Europa do gás proveniente da Rússia, o que aumenta a incerteza na zona euro. “O risco de uma desaceleração da economia alemã, em virtude da sua exposição ao gás russo, não tem ajudado na manutenção da confiança dos investidores em activos denominados em euro. E associado a isso está a apatia do Banco Central Europeu em ajustar as taxas de juro no mesmo ritmo que a Reserva Federal dos EUA. E este facto está a reduzir o nível de rentabilidade dos activos em euro, quando comparados com os activos denominados em dólar, e a pressionar a cotação do euro”, disse ao Expansão o economista Wilson Chimoco.

O investigador económico Fernandes Wanda concorda com Chimoco e admite que a agressividade da FeD em aumentar as taxas de juro acabou por resultar: “Hoje a inflação nos EUA parece estar melhor controlada”. Ambos admitem que um dólar mais valorizado face ao euro é bom para Angola, já que a maior parte das receitas do País com a exportação vêm do petróleo, que é pago em dólares, e uma boa parte das despesas são pagas em euro, sobretudo com a importação de bens alimentares da Europa.

“O país arrecada as receitas, com a exportação de petróleo, em dólares, e executa boa parte das despesas de importação de bens e serviços em euro. Logo, quanto menor for a cotação do euro, mantendo o mesmo nível de captação de receitas em dólares, menor os custos de importação”, diz Chimoco.

Só de países europeus que abraçaram a moeda europeia, segundo cálculos do Expansão com base nas estatísticas externas do Banco Nacional de Angola, vieram 29% das importações de mercadorias em 2021, atingindo o equivalente em euros a 3,4 mil milhões USD, de um total de 11,8 mil milhões USD em compras lá fora. Com o euro mais fraco, estas importações ficam mais baratas, e se, por exemplo, a importação de bens de consumo cresceu 47% no I trimestre de 2022 face ao mesmo período de 2021, ao passar de 421,6 mil milhões Kz para 620,9 mil milhões Kz, uma moeda europeia mais barata pode potenciar ainda mais essas importações, o que pode comprometer, mais uma vez, o processo de diversificação económica que, mal ou bem, tem estado a decorrer no país nos últimos anos.

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