Dezenas de milhares de espanhóis saíram às ruas neste domingo (12), convocados pela direita, para protestar contra a futura lei de amnistia para os separatistas catalães, concedida pelo presidente de governo, Pedro Sánchez, de modo a garantir seu apoio e voltar ao poder.
Considerada por parte da sociedade espanhola como um ataque ao Estado de direito, essa polêmica amnistia surge seis anos depois da tentativa de secessão da Catalunha (nordeste), em 2017, uma das mais graves crises políticas da Espanha contemporânea.
A partir do meio-dia local, dezenas de milhares de manifestantes se reuniram em 52 cidades do país para dizer “não à amnistia”, atendendo ao chamado do Partido Popular (PP), principal legenda da oposição de direita.
“Não vamos nos calar até que haja eleições”, disse seu líder, Alberto Núñez Feijóo, durante um discurso em Madrid.
Essa mobilização “vai muito além dos partidos”, acrescentou Feijóo, que venceu as eleições legislativas de julho, mas não conseguiu ser empossado como presidente de governo por falta de apoio suficiente no Parlamento.
Na capital, cerca de 80.000 manifestantes, segundo a delegação do governo, formaram um mar de bandeiras espanholas na central Plaza de la Puerta del Sol e arredores, gritando “Renúncia de Pedro Sánchez” e com faixas que diziam “Chega de desigualdade regional”, ou “Sánchez divide a nação e cria atrito”.
– Pelas costas dos espanhóis –
Pedro Sánchez, que ficou em segundo lugar nas eleições, tem agora garantido o regresso ao poder, graças ao apoio de vários grupos e dos sete deputados da legenda separatista de Carles Puigdemont. Principal figura da tentativa de secessão de 2017, ele fugiu para a Bélgica para evitar ser processado.
Em troca de seu apoio, o partido de Puigdemont, Junts per Catalunya (Juntos pela Catalunha), obteve uma lei de amnistia para os separatistas processados pela Justiça, principalmente pelos acontecimentos de 2017, assim como a abertura de negociações sobre a questão do “reconhecimento da Catalunha como nação”, entre outros assuntos.
A direita espanhola, parte do Poder Judiciário e também alguns dirigentes moderados do Partido Socialista (PSOE) de Sánchez consideram que a medida de amnistia vai contra os princípios de igualdade e unidade territorial e da separação de poderes.
Na multidão em Madrid, Laura Díaz Bordonado, uma advogada de 31 anos envolta em uma bandeira espanhola, admitiu que, além de sentir “raiva, ou indignação, também tem medo” dessa aliança política.
Um pouco mais longe, Alberto, um professor de 32 anos que também vota na direita, denunciou um pacto assinado “pelas costas de todos que estão aqui”.
– Aceitar ‘o resultado das urnas’ –
Falando no Congresso dos Socialistas Europeus em Málaga, sul da Espanha, Sánchez, no poder desde 2018, pediu no sábado ao Partido Popular que “aceite o resultado das urnas e a legitimidade do governo que vamos formar em breve”.
O partido de extrema direita Vox se uniu aos protestos do PP neste domingo, antes de participar das manifestações em frente à sede do PSOE em todo o país.
Em Madrid, o líder do Vox, Santiago Abascal, fez um apelo por uma mobilização “permanente” e “crescente” para evitar o “golpe de Estado” que, segundo ele, representa o acordo entre os socialistas e os separatistas catalães.
A sede nacional do PSOE, em Madrid, é alvo de manifestações diárias há mais de uma semana a pedido de organizações próximas do Vox. Estas manifestações degeneraram várias vezes em confrontos entre ativistas radicais e a polícia.