Um diplomata chinês comparou hoje o apelo da Austrália por um inquérito independente sobre a pandemia do novo coronavírus à traição do ditador romano Júlio César, numa tragédia de Shakespeare, em benefício dos Estados Unidos.
Wang Xining, vice-chefe da missão da embaixada chinesa na Austrália, falou no Clube de Imprensa australiano sobre o apelo feito por Camberra, que resultou na deterioração das relações bilaterais.
O Governo chinês passou a recusar falar por telefone com ministros australianos e boicotou as exportações australianas de carne bovina para o país asiático.
O apelo surgiu “numa altura em que o Governo dos Estados Unidos estava a tentar culpar a China pelo seu fracasso em controlar a propagação da doença e (…) fugir das suas responsabilidades”, disse Wang.
Wang citou uma cena na peça “Júlio César”, quando o ditador percebe que o seu amigo Marcus Junius Brutus está entre os assassinos que estão prestes a esfaqueá-lo.
“É idêntico a Júlio César quando no seu último dia viu Brutus a aproximar-se dele: Et tu, Bruto?”, afirmou Wang, usando uma frase em latim que significa “E tu, Brutus?”
A Organização Mundial da Saúde lançou, entretanto, uma investigação global sobre as origens do surto da Covid-19.
Wang disse que a investigação teve uma “origem completamente diferente” da proposta australiana.
A China tem mantido contactos ministeriais com os Estados Unidos e com governos de outros países que apoiaram a postura da Austrália, incluindo o Japão, Alemanha e França.
Wang negou que a China tenha escolhido a Austrália para enviar uma mensagem a outras potências médias para que não se manifestem.
“Acho que é uma interpretação muito desequilibrada do que aconteceu entre nós”, disse.
O diplomata recusou-se a dizer se achava que as relações sino-australianas vão melhorar após a eleição presidencial nos EUA. Wang disse que um comentário seu sobre a eleição equivaleria a uma interferência nos assuntos internos dos EUA.
A China respeita a estratégia de aliança da Austrália com os Estados Unidos, disse Wang.
“Ter um aliado não é um problema”, disse. “O problema é se tens como alvo um terceiro país como objectivo dessa aliança”.
“Se encontrarmos qualquer tendência de usar a força de uma aliança para derrubar a China ou pressionar a China – o que actualmente alguns políticos nos EUA estão a fazer – então expressaremos claramente a nossa oposição”, acrescentou.