A diáspora guineense remeteu em Paris a 8 de Março de 2022 uma carta a ser endereçada ao presidente em exercício da CEDEAO. É o chefe de Estado do Gana, Nana Akufo Addo, quem preside actualmente a comunidade regional; a entidade que anunciou o envio de tropas para a Guiné-Bissau na sequência da tentativa de golpe de Estado de 1 de Fevereiro.
A missiva foi entregue na embaixada do Gana em Paris a 8 de Março de 2022 por forma a que esta seja encaminhada à presidência ganesa.
O documento, finalizado com a diáspora dos países da CEDEAO, Comunidade económica dos Estados da África ocidental, contesta a decisão da organização tomada a 3 de Fevereiro em Accra, numa cimeira extraordinária do bloco, sem o crivo do parlamento guineense.
O texto recorda que os envios anteriores de tropas da CEDEAO para a Guiné-Bissau tinham sido submetidos à autorização prévia da Assembleia nacional popular.
O documento sublinha o facto de ter ficado por provar a suposta tentativa de golpe e aponta o dedo ao chefe de Estado Umaro Sissoco Embaló quanto à degradação dos direitos humanos, exemplificando com casos como da agressão ao jornalista Aly Silva ou ainda do ataque contra a Rádio Capital FM ou contra analistas do mesmo órgão de informação.
A diáspora guineense alerta para a gestão “opaca” dos recursos, fazendo referência aos acordos “assinados clandestinamente” com o presidente do Senegal acerca da exploração petrolífera na zona de exploração conjunta.
Um protocolo que o parlamento acabaria por anular.
O documento comenta ainda o facto de a vinda de tropas da CEDEAO para a Guiné-Bissau poderem vir para o terreno defender o mesmo presidente que tinha acabado com o contingente anterior da organização.
Os autores do texto interrogam-se sobre as contrapartidas que o Senegal e a Nigéria, que têm sido apoiantes do chefe de Estado actual, ainda antes do fim do contencioso eleitoral em que ele foi eleito, poderiam ter na Guiné-Bissau.
A diáspora opõe-se, desta feita, ao envio de tropas da CEDEAO e apela a que se promova, antes, soluções que permitam evitar conflitos ou intervenções militares.
Esta missiva ocorre após uma manifestação no fim de semana transacto em Paris da diáspora guineense, com comunidades vindas de outros países europeus além da França.
Um protesto em que os manifestantes exibiam cartazes como “Macky Sall é o equivalente de Putin na Guiné-Bissau”, numa referência à proximidade entre os estadistas do Senegal e da Guiné-Bissau.
“Nós achamos que há outros países que mais precisam dessas tropas do que nós [Guiné-Bissau] porque nós não estamos em guerra”, afirmou Fátima Diara, porta-voz do movimento, quando nos países em que houve golpes de Estado consumados tal não implicou envio de tropas da organização (Mali, Guiné Conacri e Burkina Faso).
“É mais uma manobra para proteger o presidente actual na Guiné-Bissau, para lhe dar mais força para que ele continue a pisar e a amedrontar as pessoas. E a fazer tudo o que está no seu poder para agradar a certos chefes de Estado que são seus amigos com interesses obscuros na Guiné-Bissau.”