Angola vai acolher primeira Conferência Internacional dos Diamantes, mas especialistas e empresários dizem que impacto da sua exploração não beneficia o país
A primeira grande Conferência Internacional dos Diamantes em Angola, acontece de 25 a 27 deste mês na cidade de Saurimo, na província da Lunda Sul.
Entre a expectativa da indústria e a realidade actual vai uma grande distância, com especialistas e empresários a lamentar que o negócio apenas rende a uma elite governamental, enquanto os proventos não têm impacto na economia nacional.
João Baptista é técnico e trabalha com diamantes há 30 anos e diz que os lucros não são poucos, mas sempre ficaram repartidos entre os integrantes
da elite governante e os estrangeiros, enquanto a esmagadora maioria da população angolana não vê os proventos do negócio.
“O sector dos diamantes tornou-se um negócio para os governantes angolanos, repartem os lucros entre eles, nunca entrou nas contas do Orçamento Geral do Estado (OGE) e até hoje ninguém sabe por quê, só se fala de petróleo, quando no terreno multiplicam-se as cooperativas de diamantes e os projectos mineiros”, afirma Baptista, quem, no entanto, sublinha que “não se constroem escolas, não se fazem hospitais, as pessoas morrem, não há estradas nestas regioes, o diamante sempre a ser sugado, mas para onde vai ninguém sabe”.
Monteiro Muanza, outro entendido na exploração de diamantes, diz que o Executivo passa a ideia de que o petróleo é mais caro, para escamotear os proventos dos diamantes.
“Estrategicamente apresentam ao povo que o diamante é mais barato do que o petróleo, mas não é verdade, e embora o petróleo seja maior em termos de quantidade, em nenhum momento da história o preço do petróleo superou o dos diamantes”, garante Muanza, que também lembra que no OGE o diamante consta como receita não petrolífera.
Angolanos afastados da sua riqueza
Por seu lado, o empresário e presidente da Associação Industrial Angolana, José Severino, entende que há muito devia ter sido criado um banco mineiro, para permitir que os angolanos entrem em igualdade com os estrangeiros no negócio dos diamantes.
“Nós estamos a pedir isso ao Governo há 20 anos, se não, nós os angolanos vamos continuar à boleia dos estrangeiros, quando os recursos são nossos, não pode ser”, afirma aquele líder associativo, que lamenta que o mercado é “claramente dominado pelos estrangeiros, libaneses e indianos, nós os angolanos aliás como acontece na restante economia, fomos obrigados a ficar atrás”
O economista Carlos Padre defende uma mudança radical no sector dos diamantes para que os resultados se revertam para a economia nacional e não apenas para uma elite.
“Os resultados da produção de diamantes não beneficiam as pessoas, sobretudo nas regiões onde são produzidos, a região leste tem um nível elevado de desemprego, um nível grande de pobreza extrema e isto é um paradoxo, tem de haver mudanças de atitude”, exige Padre, acrescentando que “mesmo a participação dos diamantes na balança de pagamento não tem relevância”.
Ao anunciar o evento no passado dia 3, o secretário de Estado para os Recursos Minerais, em conferência de imprensa, disse que o evento visa dar a conhecer as inúmeras oportunidades de negócio no subsector dos diamantes e continuar a dar credibilidade ao setor mineiro nacional, bem como dar a conhecer nacional e internacionalmente o valor do diamante angolano.
“Nós estamos direccionados em primeiro lugar a dar a conhecer o que é o diamante angolano de facto, isto é muito importante. O diamante para além de uma commoditie é recurso mineral estratégico, mas que ocorre no nosso país em condições próprias”, referiu Jânio Correia Victor.