Dez anos depois dos protestos da Primavera Árabe, que levaram a uma abertura política temporária no mundo árabe, o Egipto volta ao ponto de partida. Segundo organizações de direitos humanos, o Presidente Abdel Fattah al-Sissi, que governa o país com mão de ferro, ignora as liberdades fundamentais e erradicou a oposição.
As emblemáticas manifestações ocorridas na Praça Tahrir do Cairo, no âmbito da chamada Primavera Árabe, a 25 de Janeiro de 2011, hoje não passam de uma mera lembrança. Na altura, a vontade de mudança dos egípcios resultou na queda do então presidente Hosni Mubarak, após duas semanas de protestos.
Todavia, as novas liberdades e direitos conquistados, que resultaram na eleição à presidência do islamista, Mohamed Morsi, duraram apenas até 2013.
Chegado ao poder, em 2013, o general Abdel Fattah al-Sissi, afastou e prendeu Morsi e os seus apoiantes da Irmandade Muçulmana, banindo-a esta última do Egipto. O ex-chefe do Estado-Maior do exército encetou uma vaga repressiva contra islamistas, oposição laica, jornalistas, advogados, artistas e intelectuais.
No passado mês de Dezembro, a Amnistia Internacional deplorou o frenesim de execuções no Egipto.
O chefe da diplomacia egípcia, Shameh Shoukry, rejeitou as acusações da ONG, considerando que as questões de direitos humanos são da responsabilidade da sociedade do Egipto e não de entidades externas.
O general al-Sissi foi eleito pela primeira vez em 2014 e reeleito em 2018, em nome da segurança e estabilidade do Egipto, depois de ter conseguido adoptar uma emenda constitucional em Abril de 2019, que prolonga a sua presidência e reforça o seu controlo das instituições judiciais.
As organizações de direitos humanos afirmam que existem cerca de 60 mil prisioneiros políticos no Egipto, uma acusação desmentida pelas autoridades do Cairo. O governo egípcio sublinha que não existem prisioneiros políticos no país.
De acordo com Repórteres Sem Fronteiras, desde 2017 que vários sites de informação foram fechados pelas autoridades do Egipto e 28 jornalistas estão detidos no país. Paralelamente alguns órgãos de informação foram adquiridos por entidades próximas dos militares, que também controlam vastos sectores da economia.
Segundo os opositores do executivo egípcio, o estado de emergência em vigor no país desde 2017 foi reforçado em Maio de 2020 no decurso da primeira vaga da pandemia do novo coronavírus e serve de pretexto para a aplicação de medidas repressivas.
Em Novembro de 2020, três activistas de uma organização de direitos humanos foram detidos depois de um encontro com embaixadores de países ocidentais e só conseguiram a sua libertação depois de ter sido exercida uma pressão excepcional sob o governo do Cairo.
Cerca de uma dúzia de mulheres, digitais influencers, foram igualmente detidas nos últimos meses por partilharem, através de Tik Tok, um conteúdo que segundo as autoridades rebaixam os valores morais da sociedade egípcia.